Hanseníase: políticas públicas e qualidade de vida de - Centro de ...
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Se Capanema foi visto como o Ministro responsável pela implantação do isolamento, ao<br />
Diretor Orestes Diniz po<strong>de</strong> ser dado o mérito <strong>de</strong> ter acabado com a internação compulsória.<br />
Ele mesmo fora um dos que praticaram a internação e o isolamento em Minas, mas<br />
reconhecera a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interromper o flagelo – este sim – do isolamento. A CNLC,<br />
mesmo com os resultados aquém dos esperados e pretendidos, instrumentalizou o discurso<br />
contra o isolamento.<br />
Na década <strong>de</strong> 1970 este mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralização foi adotado nacionalmente <strong>de</strong> forma<br />
permanente e não apenas durante a realização <strong>de</strong> campanhas. (CURI, 2002). A estratégia <strong>de</strong><br />
controle continuaria, mas <strong>de</strong> forma isolada nos Estados que a <strong>de</strong>senvolveram mais<br />
plenamente, em âmbito municipal. A <strong>de</strong>scentralizacao se tornaria a contra-corrente do mo<strong>de</strong>lo<br />
politico vigente. Vários motivos organizacionais e estruturais contribuíram para o fracasso da<br />
continuida<strong>de</strong> da CNCL, mas ainda assim foi um marco das <strong>políticas</strong> <strong>públicas</strong> sanitárias,<br />
consolidando o tratamento fora dos Leprosários e rompendo com a internação compulsória<br />
(MACIEL, 2007).<br />
Assim, a re<strong>de</strong> asilar, preventorial e dispensarial <strong>de</strong>clinaria no início da década <strong>de</strong> 1960 quando<br />
a en<strong>de</strong>mia comprovadamente crescente, e os discursos contrários ganhavam força perante um<br />
Estado com necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> poupar recursos. O novo regime ditatorial que se instalava em<br />
1964 “embargou” as medidas isolacionistas. CURI (2002) aponta que as ações do governo<br />
foram tomadas por motivos econômicos, e novamente na história, os marginalizados seriam<br />
esquecidos e <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rados. Apontava-se o fim <strong>de</strong> uma estrutura estigmatizante e a<br />
mudança do nome da doença, prevenindo o isolamento <strong>de</strong> novos excluídos, mas “esquecia-se<br />
daqueles que já haviam sido colocados à margem. Na margem aci<strong>de</strong>ntada reservada para a<br />
lepra”. (CURI, 2002).<br />
Neste novo contexto, o papel do Leprosário, a partir da década <strong>de</strong> 60, se modificaria em<br />
direção à pesquisa e à educação profissional. Os temerários Leprosários se tornariam<br />
hospitais <strong>de</strong> <strong>de</strong>rmatologia ou <strong>de</strong> patologia tropical, com intensificação do ensino e convênios<br />
com escolas médicas (MACIEL, 2007). A ênfase passava a ser a prevenção da incapacida<strong>de</strong><br />
física por técnicas simples nos centros <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, aplicação do BCG em conjunto com serviços<br />
tisiológicos e reforço intensivo nos focos hansênicos, redução dos riscos da gravi<strong>de</strong>z,<br />
puerpério e talidomidoterapia com instruções e recursos anticoncepcionais. Corpos clínicos<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>rmatologistas e clínicos gerais se formavam para cuidar daqueles que prefirissem não se<br />
tratar em locais públicos. Drogas anti-hansênicas seriam fornecidas gratuitamente aos<br />
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