Hanseníase: políticas públicas e qualidade de vida de - Centro de ...
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“Uma vez recolhidos (alguns a laço), os pacientes perdiam sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e o<br />
contato com o mundo existente fora dos limites da instituição. Assim como nas<br />
prisões, eram mantidos sob constante vigilância, os pavilhões eram<br />
coor<strong>de</strong>nados por freiras e as regras <strong>de</strong> convivência eram muito rígidas, com<br />
punição para aqueles que acabavam por infringir tais regras; havia moeda<br />
própria e guaritas com correntes nos limites do Sanatório, a fim <strong>de</strong> impedir a<br />
fuga dos internos. A saída <strong>de</strong> pacientes, bem como a entrada <strong>de</strong> visitantes, só<br />
era permitida com autorização da administração; na época,<br />
intendência. Aqueles que conseguiam autorização para se casarem e que<br />
acabavam por ter filhos não portadores da doença, tinham suas crianças<br />
recolhidas, logo após o nascimento e conduzidas a creches, conhecidas como<br />
preventórios, on<strong>de</strong> muitas eram adotadas sem o consentimento dos pais. “<br />
(MORHAN, 2006).<br />
CARVALHO (2008) questiona o discurso recorrente <strong>de</strong> que o local era procurado<br />
pacificamente pela maioria, que queria se curar, e que o ambiente era harmônico, e pon<strong>de</strong>ra<br />
que a busca pelo local se baseava na fuga <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> discriminadora, do conceito<br />
imposto <strong>de</strong> que o hanseniano carregava “o mal”. As Colônias não eram consi<strong>de</strong>radas um<br />
ambiente <strong>de</strong> reclusão pelos administradores, embora guardassem todas as características das<br />
instituições totais e os doentes tivessem que se internar, a força ou não. Além disto, o<br />
afastamento <strong>de</strong> sua família – para a qual o próprio doente representava “perigo” – não era<br />
levado em conta ao analisar sua situação.<br />
FIGUEIREDO (2005) conclui que as internações eram autoritárias, não-educativas, e mesmo<br />
a família que tivesse um membro internado era discriminada em sua cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> origem. Alguns<br />
dos familiares dos internos que queriam ou precisavam ficar próximos <strong>de</strong>stes mudaram-se<br />
para a periferia das colônias constituindo “guetos”. A vila que se criou em torno <strong>de</strong> Santa<br />
Isabel chamava-se inicialmente Limas, <strong>de</strong>pois renomeada Citrolândia. (FIGUEIREDO, 2005;<br />
LARA, 2007).<br />
A comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Citrolândia surgiu em função da CSI, como um “espaço <strong>de</strong> inclusãoexclusiva”,<br />
também marginalizado. (FIGUEIREDO, 2005). Esta “coleti<strong>vida</strong><strong>de</strong> que se formou<br />
ao lado do Leprosário” foi o maior <strong>de</strong>stes povoados marginais às colônias brasileiras, “se<br />
espraiando pela periferia oeste do mais populoso dos Leprosários da região meridional do<br />
país. Formou-se como qualquer al<strong>de</strong>ia e se <strong>de</strong>senvolveu como nenhuma outra” (DINIZ,<br />
1961).<br />
“Citrolândia nasceu pelo preconceito da socieda<strong>de</strong>, pois a família do<br />
hanseniano que não podia morar na Colônia, por não ser doente, ia morar aqui<br />
perto; e assim nasceu Citrolândia, por causa do preconceito. Foi muito<br />
doloroso.” (Depoimento <strong>de</strong> Paulo Luiz Domingues In: LARA, 2007, p.52)<br />
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