CUNHA, Cileide Alves. Aval do passado - Pós-Graduação em ...
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117<br />
A cassação, <strong>em</strong> outubro de 1969, foi um trauma, não só político, mas também<br />
financeiro e provocou mudanças na vida de Iris. S<strong>em</strong> salário, ele l<strong>em</strong>brou-se <strong>do</strong> pai: não<br />
tinha meios para viver fora da política. Antes da cassação ele havia troca<strong>do</strong> a casa da<br />
Rua São Paulo por uma financiada, na Rua Pará. Vendeu essa casa, porque disse que<br />
não tinha mais salário para pagar as prestações, e alugou outra na Rua 91-C, no Setor<br />
Sul. Depois de 20 anos, Iris mudava-se de Campinas para “morar <strong>em</strong> Goiânia”, como os<br />
campineiros se referiam à região central da cidade. L<strong>em</strong>bra-se de que ficou s<strong>em</strong> nada e<br />
entendeu as preocupações de seu pai.<br />
Em outubro de 1969, ele estava casa<strong>do</strong> com Iris Araújo e era pai de Cristiano,<br />
com menos de três anos de idade (ele nasceu <strong>em</strong> 24 de dez<strong>em</strong>bro de 1966), de Ana<br />
Paula, com um ano de idade (ela é de 12 outubro de 1968), e sua mulher estava grávida<br />
da caçula, Adriana, que nasceria sete meses depois da cassação, <strong>em</strong> maio de 1970. Iris<br />
levou um ano para começar a ganhar seu próprio dinheiro. Enquanto isso, sobreviveu da<br />
mesada <strong>do</strong> irmão, Orlan<strong>do</strong>.<br />
A primeira providência de Orlan<strong>do</strong>, depois da cassação, foi organizar férias<br />
para o irmão e sua família. Arrumou a casa de um amigo no Rio de Janeiro, onde Iris<br />
passou 15 dias. Ele recorda-se de que <strong>em</strong> seguida, no seu aniversário, <strong>em</strong> 22 de<br />
dez<strong>em</strong>bro de 1969, foi convida<strong>do</strong> por um grupo de comerciantes da Rua José Hermano,<br />
para uma festa na chácara de Odilon Soares, <strong>em</strong> Trindade. O grupo descobrira que o exprefeito<br />
andava de ônibus e resolveu dar-lhe um carro zero-quilômetro de presente. Era<br />
um Fusca verde. “Eu não sabia, quan<strong>do</strong> cheguei lá tiraram o pano e me entregaram as<br />
chaves. Foi aquela choradeira.” 202<br />
To<strong>do</strong> mês, Iris buscava a mesada no frigorífico. Um dia ele encontrou Orlan<strong>do</strong><br />
nervoso, reclaman<strong>do</strong> que o irmão estava gastan<strong>do</strong> muito. “Moço! Saí caladinho, desci,<br />
peguei o carro, parei uns três quarteirões depois, na Vila Bethel, chorei, chorei, chorei.<br />
Mas que coisa! Eu já complexa<strong>do</strong>, viven<strong>do</strong> as expensas dele, e não estava gastan<strong>do</strong><br />
nada. Acho que era o dia mesmo. Mas, passou.” 203 Quan<strong>do</strong> Iris chegou <strong>em</strong> casa, o<br />
envelope com o dinheiro já estava lá.<br />
Bacharel <strong>em</strong> Direito há oito anos, mas s<strong>em</strong> nunca ter exerci<strong>do</strong> a profissão, ele<br />
tinha de decidir o que fazer para sustentar sua família. Depois de vários convites,<br />
202 Entrevista <strong>em</strong> 4/7/2007.<br />
203 Entrevista, idib<strong>em</strong>.