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CUNHA, Cileide Alves. Aval do passado - Pós-Graduação em ...

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(1983–1986), além da Praça Universitária. As faculdades começavam a se instalar no<br />

Setor Universitário e Iris achava que isso era um diferencial <strong>do</strong> bairro, que merecia uma<br />

praça diferente. “‘Eurico, t<strong>em</strong>os de fazer uma praça aqui que seja ex<strong>em</strong>plo para o Brasil<br />

e que o t<strong>em</strong>po não a transforme <strong>em</strong> algo obsoleto, que ela tenha um traço diferente’.<br />

Você pega aquele projeto [da Praça Universitária]: é o que existe de mais moderno.<br />

Você sobe e desce <strong>do</strong> mesmo la<strong>do</strong> da pista.” 150 A praça t<strong>em</strong> uma mão de trânsito no<br />

senti<strong>do</strong> anti-horário e uma mão <strong>em</strong> uma via interna no senti<strong>do</strong> horário.<br />

Para construir a Praça Universitária e abrir as avenidas no bairro, o prefeito<br />

teve de desocupar uma invasão, com mais de mil mora<strong>do</strong>res. Esta não era a única. Iris<br />

recorda-se de que quan<strong>do</strong> assumiu a prefeitura havia invasão na beira <strong>do</strong>s córregos, <strong>em</strong><br />

áreas públicas, como no Lago das Rosas e <strong>em</strong> frente à Pecuária. “A cidade, que tinha<br />

ruas planejadas até onde havia só mato, foi fican<strong>do</strong> cheia de favelas, de gente vinda <strong>do</strong><br />

Norte ou da zona rural” (Realidade, p. 26). Iris conta que procurou três imobiliárias para<br />

conseguir ajuda para abrigar os mora<strong>do</strong>res retira<strong>do</strong>s da invasão da Praça Universitária:<br />

A <strong>do</strong> Coimbra Bueno, que era administrada pelo Costinha (José Costa Arantes), a <strong>do</strong> [Elias]<br />

Bufáiçal e tinha uma outra. Eram três, três ou quatro existentes na época e pedi mil lotes para<br />

abrigar o pessoal da Praça Universitária. “Oh, se vocês não quiser<strong>em</strong> <strong>do</strong>ar eu vou instituir<br />

imposto sobre o loteamento e vou tirar o dinheiro <strong>do</strong>s impostos.” Eu sei que deram, não<br />

resistiram muito, deram a escritura direto para as pessoas. Eu mandava o nome [<strong>do</strong><br />

beneficia<strong>do</strong>] para a imobiliária e dava o dinheiro para ajudar a construir a casa. E assim fomos<br />

retiran<strong>do</strong> e construin<strong>do</strong> a praça. Retiramos dali, <strong>do</strong> Lago das Rosas. 151<br />

Iris considera que esse foi um momento importante <strong>em</strong> sua trajetória<br />

administrativa, por ter ti<strong>do</strong> discernimento de pôr um fim nas moradias precárias<br />

existentes <strong>em</strong> várias partes da cidade. “Por que eu enxerguei naquela época, há 40 anos,<br />

os malefícios de uma favela? Quer dizer, eu, jov<strong>em</strong> ainda, já me irritava com aquela<br />

promiscuidade de uma favela.” 152 Ele acha que teve essa percepção <strong>em</strong> função de sua<br />

formação cristã. A escolha da palavra “promiscuidade” para se referir às relações entre<br />

as pessoas nas favelas pode ter relação com a formação moralista que recebeu da igreja.<br />

admitin<strong>do</strong> que foi um grande auxiliar. Recordan<strong>do</strong>-se de Eurico, ele l<strong>em</strong>brou-se <strong>do</strong> mutirão da moradia, e<br />

daí partiu para narrar como foi aquele dia. As l<strong>em</strong>branças de Eurico e de como o povo atendeu a seu<br />

chama<strong>do</strong> para participar <strong>do</strong> mutirão que ergueu mil casas <strong>em</strong> um dia deixaram Iris frágil. Ele chorou pela<br />

segunda vez. A primeira foi quan<strong>do</strong> falou sobre o irmão Orlan<strong>do</strong>, no dia <strong>em</strong> que completava um ano de<br />

sua morte. Iris tenta ser racional no coman<strong>do</strong> administrativo, mas, como toda liderança carismática, t<strong>em</strong><br />

um forte componente irracional (Weber, 1994).<br />

150 Entrevista <strong>em</strong> 26/6/2007.<br />

151 Entrevista, ibid<strong>em</strong>.<br />

152 Entrevista, ibid<strong>em</strong>.<br />

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