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CUNHA, Cileide Alves. Aval do passado - Pós-Graduação em ...

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controle das instâncias partidárias, trocan<strong>do</strong> fidelidade política por cargos no<br />

governo. 273<br />

189<br />

No início de sua militância no movimento estudantil, ele fazia política por<br />

intuição, mas depois investiu <strong>em</strong> sua vocação, profissionalizan<strong>do</strong>-se até chegar à<br />

excelência na carreira. A consolidação de sua liderança deve-se a esse investimento e<br />

não à sua “predestinação” ou à sua “intuição”, como ele acredita, pois várias vezes ele<br />

afirmou nas entrevistas a esta pesquisa<strong>do</strong>ra, que não t<strong>em</strong> como explicar sua carreira “a<br />

não ser pelo la<strong>do</strong> espiritual”. Iris é uma liderança carismática com vocação para “viver<br />

para a política” e não “da política” (Weber), mas ele não teria sobrevivi<strong>do</strong> apenas com<br />

seu talento natural.<br />

Ao entrar para o campo político, ele lapi<strong>do</strong>u sua atuação. Inspirou-se na escola<br />

de Mauro Borges para criar um estilo de gestão administrativa. Acrescentou a esse<br />

aprendiza<strong>do</strong> um toque pessoal de realizar administrações voltadas a oferecer infraestrutura<br />

e a atender reivindicações da população, como fez na prefeitura de Goiânia <strong>em</strong><br />

1966–1969 (a “administração revolucionária”). Nas ações políticas, ele escolheu um<br />

grupo político forte para se unir e tomou atitudes populistas e d<strong>em</strong>agógicas para reforçar<br />

sua liderança. Enfim, aprendeu o “<strong>do</strong>mínio prático” (Bourdieu, 1989) das regras<br />

internas da luta dentro <strong>do</strong> campo político. 274<br />

na eleição de 1994. O ex-prefeito recusou o convite, porque queria ser candidato a sena<strong>do</strong>r (informação<br />

que Iris confirmou nas entrevistas a esta pesquisa<strong>do</strong>ra). Iris concor<strong>do</strong>u com o pedi<strong>do</strong> e garantiu a Nion<br />

que os <strong>do</strong>is disputariam as duas vagas para sena<strong>do</strong>r daquela eleição. Segun<strong>do</strong> Nion, Otoniel Macha<strong>do</strong>,<br />

com qu<strong>em</strong> já tivera atritos anteriormente, começou a inviabilizar sua candidatura no interior <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.<br />

Foi então que Nion procurou Iris e disse-lhe: "Eu não quero botá-lo constrangi<strong>do</strong> de ter que decidir uma<br />

coisa entre eu e seu irmão. Você vai ter de ficar <strong>do</strong> la<strong>do</strong> <strong>do</strong> seu irmão. Então, você já fica <strong>do</strong> la<strong>do</strong> dele que<br />

eu saio.” Nion filiou-se ao PSDB, disputou o Sena<strong>do</strong> e perdeu para Mauro Miranda, eleito com o apoio de<br />

Iris. “O Mauro Miranda ainda fala: ‘Eu fui sena<strong>do</strong>r porque o Nion não quis.’” Entrevista <strong>em</strong> 16/9/2007.<br />

273<br />

O irismo, força política heg<strong>em</strong>ônica <strong>em</strong> Goiás na década de 80, promoveu as contradições que<br />

alimentaram o anti-irismo. Líderes arenistas foram os primeiros a se organizar contra o irismo e<br />

obtiveram sucesso quan<strong>do</strong> conseguiram sua cassação, <strong>em</strong> 1969. Essa primeira reação ganhou adesões no<br />

auge da heg<strong>em</strong>onia política de Iris. O movimento anti-irista fortaleceu-se a partir de seu segun<strong>do</strong> governo<br />

(1991–1994) e conseguiu impingir-lhe sua primeira derrota eleitoral <strong>em</strong> 1998. Borges considera as<br />

seguintes “motivações anti-iristas”: a oposição difusa contra o poder <strong>em</strong> si, <strong>em</strong> função <strong>do</strong> exercício<br />

continua<strong>do</strong> <strong>do</strong> poder; a reação negativa <strong>do</strong> funcionalismo público; um certo “preconceito” contra Iris<br />

manti<strong>do</strong> pelas camadas médias da população e por setores intelectuais e, por fim, o anti-irismo<br />

r<strong>em</strong>anescente <strong>do</strong> udenismo e <strong>do</strong> arenismo (1998, p. 189).<br />

274 A partir de 1982, a construção da imag<strong>em</strong> política de Iris transitou “na duplicidade das instâncias<br />

legendárias e da realidade administrativa”. Ele renovou a legitimidade de sua liderança ora como o “o<br />

herói mítico”, que confirma sua vocação de político para comandar os destinos <strong>do</strong> povo, ora<br />

apresentan<strong>do</strong>-se como o administra<strong>do</strong>r eficiente que recupera as gestões públicas, constrói a infraestrutura<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> para conduzi-lo ao desenvolvimento econômico e social (Borges, 1998, p., 184). Essa<br />

duplicidade de ação é recorrente <strong>em</strong> sua atuação política: ele é conserva<strong>do</strong>r, mas defensor da

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