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CUNHA, Cileide Alves. Aval do passado - Pós-Graduação em ...

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gamelas, às 9 horas da manhã. Os irmãos trabalhavam na olaria até por volta das 14<br />

horas, quan<strong>do</strong> chegava a merenda: queijo frito com açúcar, canjica com leite, canjica<br />

socada com amen<strong>do</strong>im, arroz-<strong>do</strong>ce. Depois <strong>do</strong> lanche, os meninos e os peões<br />

<strong>em</strong>pilhavam as telhas e tijolos fabrica<strong>do</strong>s no dia. A hora mais difícil era quan<strong>do</strong> a<br />

produção ia para o forno.<br />

Para mim é o pior serviço que eu já fiz, pior <strong>do</strong> que <strong>em</strong>punhar enxada o dia inteiro na roça.<br />

Primeiro o seguinte: a base de tu<strong>do</strong> aquilo é um pó. Você faz uma base na mesa para passar na<br />

fôrma e ela não pregar. É uma areia fina, na qual você mistura cinza, tirada <strong>do</strong> forno que<br />

queimava o tijolo e a telha. Misturava aquela cinza com areia fina para passar na fôrma. O<br />

vento jogava cinza <strong>em</strong> seu rosto; tr<strong>em</strong> de louco, de <strong>do</strong>i<strong>do</strong>. Era aquele trabalho até de tarde.<br />

Das 2 às 5 horas era <strong>em</strong>pilhan<strong>do</strong>. Uma vez por s<strong>em</strong>ana estava queiman<strong>do</strong> no forno. Queimava<br />

a produção de uma s<strong>em</strong>ana, 2 mil tijolos. Na queimada tinha de ficar um peão a noite inteira.<br />

Normalmente o papai não nos deixava. De duas <strong>em</strong> duas horas t<strong>em</strong> de renovar a madeira para<br />

não diminuir o calor. 33<br />

Outra atividade econômica da fazenda era a engorda de porcos. A Fazenda<br />

Canastra engordava uma média de c<strong>em</strong> capa<strong>do</strong>s. A alimentação <strong>do</strong>s animais também era<br />

responsabilidade <strong>do</strong>s meninos. A jornada terminava às 18 horas, depois de 13 horas<br />

seguidas de trabalho. O jantar era <strong>em</strong> casa, acompanha<strong>do</strong> da família e de to<strong>do</strong>s os peões.<br />

O único e curto momento de lazer ocorria depois <strong>do</strong> jantar. A família reunia-se na sala<br />

para ouvir o rádio. Os meninos não resistiam por muito t<strong>em</strong>po. Logo caíam no sono. A<br />

mãe carregava-os para a cama para uma noite de aproximadamente nove horas de sono.<br />

“Escurecia, e às sete e meia estávamos <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong>.”<br />

Essa rotina repetiu-se <strong>do</strong>s 7 anos aos 16 anos <strong>em</strong> sua vida. “Neste perío<strong>do</strong> eu<br />

nunca me levantei depois das 4 horas da manhã.” E marcou a formação de sua<br />

personalidade. “Eu acho que se a minha infância não tivesse si<strong>do</strong> como foi, eu não era o<br />

hom<strong>em</strong> determina<strong>do</strong> que sou. Eu s<strong>em</strong>pre achei que a vida é trabalho.” 34 Iris admite ser<br />

obceca<strong>do</strong> por trabalhar. Não t<strong>em</strong> hobby. Aliás, t<strong>em</strong> um: “Meu hobby é a política.”<br />

Como a política é seu trabalho, seu hobby é o trabalho. A rotina de 13 horas diárias de<br />

lida na fazenda, na idade de formação de sua personalidade, e o ex<strong>em</strong>plo <strong>do</strong> pai foram<br />

decisivos. Ao ouvir a pergunta se, quan<strong>do</strong> jov<strong>em</strong>, ele gostava de praticar esporte,<br />

passear, ele ficou <strong>em</strong> silêncio por um bom t<strong>em</strong>po antes de responder:<br />

33 Entrevista, ibid<strong>em</strong>.<br />

Interessante, uma vez uma pessoa me perguntou: “De que gosta seu pai?” Eu disse: “Ele só<br />

gosta de trabalhar.” Impressionante, a vaidade de meu pai – eu acho que transferiu um<br />

pouquinho para mim – era ser reconheci<strong>do</strong> como um realiza<strong>do</strong>r, trabalha<strong>do</strong>r. Papai foi um<br />

luta<strong>do</strong>r. [...] Papai trabalhava d<strong>em</strong>ais. Ele usava três cavalos durante o dia, andan<strong>do</strong> <strong>em</strong> tu<strong>do</strong>,<br />

34 Entrevista <strong>em</strong> 11/1/2008.<br />

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