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CUNHA, Cileide Alves. Aval do passado - Pós-Graduação em ...

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Iris considera que seu pai tinha “faro para os negócios”, era “muito<br />

trabalha<strong>do</strong>r” e “movi<strong>do</strong> pela ambição exagerada”, características que o motivaram a<br />

montar <strong>em</strong>presas na cidade. Começou com uma fábrica de móveis e uma máquina de<br />

beneficiar arroz e café. Pouco t<strong>em</strong>po depois, trocou-as por um laticínio, que coman<strong>do</strong>u<br />

por oito anos com <strong>do</strong>is sócios e os filhos Orlan<strong>do</strong> e Jairo, que ajudavam na<br />

administração. Orlan<strong>do</strong> administrava o laticínio de Goiânia e Jairo cuidava <strong>do</strong> segun<strong>do</strong>,<br />

instala<strong>do</strong> posteriormente <strong>em</strong> Anicuns. Por sugestão de Orlan<strong>do</strong>, a família decidiu vender<br />

sua cota nos laticínios para investir <strong>em</strong> um negócio que parecia mais promissor. Foi<br />

quan<strong>do</strong> comprou o Frigorífico Vera Cruz.<br />

A vida de Iris <strong>em</strong> Goiânia mu<strong>do</strong>u muito <strong>em</strong> comparação com a da fazenda, e<br />

para melhor. “Esse foi o momento alto de nossa vida: <strong>do</strong> meu irmão mais velho<br />

[Orlan<strong>do</strong>], <strong>do</strong> Jairo, <strong>do</strong> Otoniel e da Irac<strong>em</strong>a.” Iris não trabalhava como na fazenda,<br />

apesar de o pai não lhe dar folga. Filostro era austero, e exigia que os filhos<br />

trabalhass<strong>em</strong>. Estudan<strong>do</strong> o dia inteiro e envolvi<strong>do</strong> com o movimento estudantil, Iris era<br />

o único <strong>do</strong>s três mais velhos que não trabalhava. “Ele repetia que to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> que<br />

vendeu fazenda no interior e mu<strong>do</strong>u-se para a cidade ficou pobre.” 50 Movi<strong>do</strong> por essa<br />

angústia, o pai pressionou Iris a arrumar um <strong>em</strong>prego.<br />

Um dia saí a pé da minha casa na [Rua] Rio Verde e fui contan<strong>do</strong> as esquinas até chegar à<br />

[Avenida] 24 de Outubro. Era para eu não me perder na nova cidade. Virei à esquerda na 24 e<br />

segui até a Praça Joaquim Lúcio de um la<strong>do</strong> da rua. Depois voltei pela outra calçada. Parei <strong>em</strong><br />

todas as lojas pedin<strong>do</strong> <strong>em</strong>prego. Fui b<strong>em</strong> trata<strong>do</strong> <strong>em</strong> duas delas, pelo gerente das Casas<br />

Pernambucanas e pelo <strong>do</strong>no da Eletromecânica [Ignacy Goldfeld], pai desses meninos da<br />

Govesa [Hugo Godfeld]. Mas não consegui nada. Até que parei <strong>em</strong> uma obra onde hoje é a<br />

Igreja Santo Antônio e me ofereceram o serviço de servente de pedreiro. 51<br />

Nessa época, Iris se preparava para admissão na Escola Técnica de Goiânia, no<br />

curso da professora Edna de Roure. As aulas particulares duravam sete meses e eram<br />

apenas à noite. Ele tinha t<strong>em</strong>po de sobra, aceitou a oferta de servente de pedreiro e<br />

trabalhou por um mês. Foi a única experiência, e curta, de trabalho duro, que l<strong>em</strong>brava<br />

os t<strong>em</strong>pos da roça. Depois, foi vende<strong>do</strong>r t<strong>em</strong>porário durante as festas de fim de ano na<br />

Casa da Sogra, uma loja de teci<strong>do</strong>s <strong>em</strong> Campinas, e, posteriormente, passou a ajudar o<br />

pai na fábrica de laticínios, mas só nas férias. Quan<strong>do</strong> morava na fazenda, Iris<br />

trabalhava 13 horas por dia, de segunda a sába<strong>do</strong>, e 4 horas no <strong>do</strong>mingo (tiran<strong>do</strong> leite<br />

das vacas). Agora se dava ao luxo de trabalhar apenas nas férias.<br />

50 Entrevista, ibid<strong>em</strong>.<br />

51 Entrevista, ibid<strong>em</strong>.<br />

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