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CUNHA, Cileide Alves. Aval do passado - Pós-Graduação em ...

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não só por seu talento, mas porque recebeu apoio de uma grande pianista, a avó, Nhanhá<br />

<strong>do</strong> Couto, e dedicou-se a um árduo e longo treinamento. Da mesma forma ocorreu com<br />

Iris: ele também lapi<strong>do</strong>u seu talento, por anos segui<strong>do</strong>s, desde quan<strong>do</strong> treinava <strong>em</strong><br />

cursos de oratória no grêmio estudantil, passan<strong>do</strong> por experiências que lhe ensinaram a<br />

tomar decisões, como a de escolher um parti<strong>do</strong> político grande para se filiar, a conhecer<br />

as regras <strong>do</strong> jogo <strong>do</strong> campo político, a definir seu estilo político (“meu l<strong>em</strong>a é fazer”) e<br />

difundi-lo junto ao eleitora<strong>do</strong> até se transformar no político que sobrevive <strong>do</strong> mesmo<br />

ofício há 50 anos e que não t<strong>em</strong> planos de se aposentar, porque a política impregnou-se<br />

<strong>em</strong> sua vida, inclusive na pessoal.<br />

Ele vive sua vocação política nas formas definidas por Weber (como um<br />

político que vive para uma missão e também vive da missão) e por Bourdieu (serve os<br />

interesses de seus eleitores na medida <strong>em</strong> que se serve também aos servi-los). Sua<br />

atuação política vive um círculo virtuoso: ele serve seus <strong>do</strong>is públicos alvos – seu<br />

eleitor e seus concorrentes/correligionários (os agentes <strong>do</strong> campo político) –, um<br />

cuida<strong>do</strong> que lhe rende dividen<strong>do</strong>s políticos (prestígio entre os profissionais da política)<br />

e eleitorais (votos). Ele joga o xadrez político dentro <strong>do</strong> campo político da mesma forma<br />

com que se dedica à construção de sua imag<strong>em</strong> junto ao público externo, e, nas palavras<br />

de Bourdieu, seu discurso político é afeta<strong>do</strong> por uma duplicidade que resulta da<br />

necessidade de servir ao mesmo t<strong>em</strong>po às lutas internas e às lutas externas.<br />

Sua desconfiança <strong>em</strong> relação à lealdade de Mauro Borges à sua eleição para<br />

deputa<strong>do</strong> estadual é um ex<strong>em</strong>plo disso. Ele conseguiu surpreender Mauro Borges e o<br />

próprio PSD ao se eleger o deputa<strong>do</strong> mais vota<strong>do</strong> de Goiás <strong>em</strong> 1962, revelan<strong>do</strong>-se um<br />

“fenômeno eleitoral da política goiana” (O Popular, 18/11/62, p. 3) <strong>em</strong> meio a<br />

candidatos b<strong>em</strong> mais populares, como Walteno Cunha e Antônio Magalhães. Fez<br />

campanha entre seu potencial eleitora<strong>do</strong>, s<strong>em</strong> fazer estardalhaço sobre os resulta<strong>do</strong>s que<br />

planejara obter dentro de seu próprio parti<strong>do</strong>, para não despertar a atenção de seus<br />

concorrentes para si, o que poderia pôr seus planos <strong>em</strong> risco, pois nada é exigi<strong>do</strong> de<br />

forma mais absoluta pelo jogo político <strong>do</strong> que a adesão ao próprio jogo (Bourdieu): uma<br />

das regras desse jogo é a “frieza” para sobreviver na política, marcada por “nuances” e<br />

“baixaria”, segun<strong>do</strong> as palavras de Iris.<br />

Em 62, ele conquistou o eleitora<strong>do</strong> pela segunda eleição consecutiva, elegeuse<br />

deputa<strong>do</strong>, mas mesmo essa popularidade não lhe deu acesso ao restrito grupo de<br />

Pedro Lu<strong>do</strong>vico. Iris era <strong>do</strong> PSD, mas ainda não gozava da confiança da família. A

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