CUNHA, Cileide Alves. Aval do passado - Pós-Graduação em ...
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118<br />
decidiu abrir um escritório de advocacia. Reuniu um grupo de advoga<strong>do</strong>s experientes:<br />
<strong>do</strong>is des<strong>em</strong>barga<strong>do</strong>res aposenta<strong>do</strong>s, Everal<strong>do</strong> de Souza e Hamilton Velasco, e um excolega<br />
de Ass<strong>em</strong>bléia Legislativa, o ex-deputa<strong>do</strong> Nígel Gui<strong>do</strong> Spencieri e fundaram o<br />
escritório Serviço Jurídico Associa<strong>do</strong>. Ao grupo juntaram-se <strong>do</strong>is advoga<strong>do</strong>s recémforma<strong>do</strong>s,<br />
Paulo César Barbosa de Lima e Charife Oscar Abrão. Os quatro sócios<br />
pagavam 5% das causas aos <strong>do</strong>is advoga<strong>do</strong>s e dividiam o restante <strong>do</strong> lucro entre eles.<br />
Iris não optou pela área criminal por acaso. “Por que eu escolhi a advocacia<br />
criminal naquela época? Era para eu ter a oportunidade de falar ao povo nos júris. Eu<br />
era um político invetera<strong>do</strong>. Dez anos [de cassação]; eu vou voltar, como aconteceu.” 204<br />
À frente <strong>do</strong>s júris ele falaria ao povo, para manter acesa a m<strong>em</strong>ória <strong>do</strong>s eleitores durante<br />
os dez anos da cassação, mas <strong>em</strong> uma atividade legal.<br />
Quan<strong>do</strong> eu chegava no interior para fazer um júri, a cidade toda ia para a porta <strong>do</strong> Fórum. Em<br />
muitos locais eles colocavam alto-falante, para transmitir para o povo, para o povo não<br />
aglomerar dentro <strong>do</strong> Fórum. Mas eu s<strong>em</strong>pre tive uma cautela: pegar uma defesa que eu podia<br />
colocar meu coração nela. Eu entendia que a pessoa teve a sua razão ali no ato, que nós<br />
chamamos de legítima defesa. É possível que eu tenha feito mais de c<strong>em</strong> júris, com uma<br />
condenação apenas. 205<br />
Como advoga<strong>do</strong>, ele contava com a proteção da OAB no exercício da<br />
profissão e aproveitava as defesas nos tribunais de júri para criticar o governo. “No júri,<br />
eu tinha meu direito de falar assegura<strong>do</strong> e, nessa hora, nas teses que defendia eu tacava<br />
o sarrafo no governo.” 206 Iris aproveitava para criticar o Esta<strong>do</strong>, na figura de seu<br />
representantes no júri, o promotor de justiça:<br />
[Eu] dizia agora v<strong>em</strong> o Esta<strong>do</strong>, esse poder constituí<strong>do</strong> para defender os interesses coletivos da<br />
sociedade, através <strong>do</strong> promotor, pedir a condenação <strong>do</strong> fulano. Esse Esta<strong>do</strong>, esse governo que<br />
está aí não t<strong>em</strong> moral para pedir condenação de ninguém. [...] Então eu aproveitava e fazia<br />
oposição também. 207<br />
Nessa altura, Iris diz que já enxergava o outro la<strong>do</strong> de sua cassação. “Não foi<br />
de to<strong>do</strong> mal”, reconhece, pois ela lhe permitiu advogar e ganhar dinheiro, uma<br />
preocupação que s<strong>em</strong>pre acompanhou seu pai, Filostro. O escritório lhe possibilitou<br />
ganhos fora <strong>do</strong> setor público. Nos cerca de dez anos <strong>em</strong> que manteve o escritório, Iris<br />
afirma que formou um patrimônio: comprou fazenda <strong>em</strong> Britânia, construiu sua casa na<br />
204<br />
Entrevista <strong>em</strong> 28/1/2008.<br />
205<br />
Entrevista <strong>em</strong> 4/7/2007.<br />
206<br />
Entrevista, ibid<strong>em</strong>.<br />
207<br />
Entrevista, ibid<strong>em</strong>.