CUNHA, Cileide Alves. Aval do passado - Pós-Graduação em ...
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Até hoje, passa<strong>do</strong>s quase 40 anos, Iris usa esses recursos, alguns já<br />
ultrapassa<strong>do</strong>s, para divulgar suas ações na Prefeitura de Goiânia, como afixar placas <strong>em</strong><br />
todas as ruas que receb<strong>em</strong> desde um simples recapeamento até uma grande obra,<br />
poluin<strong>do</strong> visualmente a cidade, e a desastrada decisão de levar 200 ônibus para a Praça<br />
Cívica <strong>em</strong> junho deste ano para anunciar a renovação da frota <strong>do</strong> transporte coletivo,<br />
congestionan<strong>do</strong> o tráfego no Centro <strong>em</strong> uma sexta-feira, no horário de as pessoas ir<strong>em</strong><br />
para o trabalho ou à escola, o que irritou tanto os usuários <strong>do</strong> transporte coletivo como<br />
os motoristas que ficaram para<strong>do</strong>s no engarrafamento.<br />
Iris alimenta-se nessa relação com o povo, obten<strong>do</strong> popularidade que depois se<br />
transforma <strong>em</strong> votos. É uma via de mão dupla que ele sabe explorar muito b<strong>em</strong>. Na<br />
reportag<strong>em</strong> da revista Realidade, há quase 42 anos, ele confessa seu desejo de ser<br />
reconheci<strong>do</strong> pelo povo neste diálogo publica<strong>do</strong> sob o título “Para Iris, ser popular é ser<br />
feliz”:<br />
– Iris o que você de fato quer?<br />
– Quero servir o povo.<br />
– Não, a pergunta não era b<strong>em</strong> essa.<br />
– Quero andar de cabeça erguida, quan<strong>do</strong> não tiver mais nenhum cargo público.<br />
– Não, também não é isso. O que é que você quer para se sentir, hoje, feliz? O que você<br />
precisa para sua felicidade pessoal?<br />
– Bom, eu acho que é.<br />
– Você nunca tinha pensa<strong>do</strong> nisso?<br />
– Já pensei. É verdade. Eu trabalho muito na Prefeitura. Primeiro porque gosto da cidade.<br />
Segun<strong>do</strong> porque quero que to<strong>do</strong>s saibam que eu fiz. (Realidade, 1966, p. 29)<br />
Ele luta para realizar seu desejo de reconhecimento público e não o espera<br />
surgir espontaneamente. Toma as iniciativas de levar informações ao povo para ser visto<br />
como grande líder político e administrativo. Iris diz que seu meio político s<strong>em</strong>pre foi o<br />
povo e não a elite, tanto a política, a intelectual ou a econômica. “Eu tenho uma<br />
capacidade muito grande de sentir o povo. Eu vejo quan<strong>do</strong> o pessoal está feliz ou não<br />
está; vou fazen<strong>do</strong> meu pronunciamento, e medin<strong>do</strong> a receptividade <strong>do</strong> ouvinte: se eu<br />
estou conseguin<strong>do</strong> impressionar, convencen<strong>do</strong> ou não.” 258<br />
Ao longo de várias entrevistas concedidas para esta pesquisa<strong>do</strong>ra, tratan<strong>do</strong> de<br />
assuntos distintos, Iris deixou transparecer mais de uma vez que não se identifica com a<br />
elite. A roça marcou tão profundamente a formação de sua subjetividade que ele diz, às<br />
gargalhadas, que saiu da roça, mas que a roça não saiu dele. 259 Faz quase 50 anos que<br />
258<br />
Entrevista <strong>em</strong> 2/12/06.<br />
259<br />
Entrevista <strong>em</strong> 28/01/2008