CUNHA, Cileide Alves. Aval do passado - Pós-Graduação em ...
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Oficialmente fora da política <strong>em</strong> 1969, houve um processo de construção<br />
mítica a respeito de Iris Rezende ou, nas palavras de Borges, “o enraizamento das<br />
condições subjetivas” que futuramente permitiriam seu retorno e o <strong>do</strong>mínio político. O<br />
processo de heroificação ocorreu por uma “manipulação voluntária” e por um processo<br />
natural de “transmutação <strong>do</strong> real e sua absorção pelo imaginário”. A gestão de Iris na<br />
prefeitura de Goiânia, como vimos <strong>em</strong> detalhes anteriormente, foi cuida<strong>do</strong>samente<br />
pensada para mudar a vida da população goianiense, construin<strong>do</strong> uma infra-estrutura<br />
inédita na cidade. Com a ajuda da propaganda política (os mutirões, as festas de<br />
inauguração de obras com foguetes, faixas, e feitas para multidões, a propaganda na<br />
TV) e de sua liderança carismática (facilidade de oratória e poder de persuasão), criouse<br />
uma imag<strong>em</strong> de administração realiza<strong>do</strong>ra e eficiente.<br />
A imag<strong>em</strong> de “herói da normalidade” cabe b<strong>em</strong> <strong>em</strong> Iris. Ele foi escolhi<strong>do</strong> pelo<br />
povo para construir uma cidade, com respeito às instituições públicas estabelecidas,<br />
apesar de sua oposição aos comandantes dessas instituições. Ele cumpria o acor<strong>do</strong> tácito<br />
com o eleitor até que os <strong>do</strong>is la<strong>do</strong>s surpreenderam-se com a interrupção <strong>do</strong> contrato<br />
eleitoral. A surpresa, que depois se transformou <strong>em</strong> decepção (simbolizada pelos<br />
eleitores rasgan<strong>do</strong> títulos eleitorais <strong>em</strong> protesto contra a cassação) com as regras<br />
“d<strong>em</strong>ocráticas” <strong>do</strong> regime político, mu<strong>do</strong>u a representação popular tanto <strong>do</strong> político<br />
quanto de sua obra: a mensag<strong>em</strong> de uma administração eficiente passou a ser vista como<br />
uma “administração revolucionária” e a de prefeito eficiente, como um político<br />
injustiça<strong>do</strong>. O t<strong>em</strong>po, os dez anos da cassação, tratou de difundir a imag<strong>em</strong> de um<br />
salva<strong>do</strong>r deseja<strong>do</strong> e de alimentar a esperança <strong>em</strong> sua volta. O mito político Iris Rezende<br />
transformou-se <strong>em</strong> força de mobilização a favor <strong>do</strong> “t<strong>em</strong>po da presença”, quan<strong>do</strong> ele<br />
enfim voltaria para reparar a injustiça e acabar com a crise de legitimidade política.<br />
Ao fazer uma “aproximação <strong>em</strong>pírica” entre os modelos propostos por<br />
Girardet e Iris Rezende, Borges afirma que eles se “interpõ<strong>em</strong> ou se fusionam” <strong>em</strong> Iris,<br />
possibilitan<strong>do</strong>, <strong>em</strong> momentos distintos, a preponderância de um modelo. Antes da<br />
cassação, lhe cabiam as imagens de celeritas: “’jov<strong>em</strong> idealista’, ‘toca<strong>do</strong>r de obras’ e<br />
‘que governa para os humildes’ é vitima<strong>do</strong> pela violência <strong>do</strong>s poderosos que ‘t<strong>em</strong>iam<br />
sua obstinada vocação para liderar o povo’”. Depois de cassa<strong>do</strong> ele se transforma no<br />
“herói injustiça<strong>do</strong>” e passa a ser exalta<strong>do</strong> por correligionários <strong>do</strong> MDB como símbolo<br />
de “qu<strong>em</strong> enfrentou as baionetas, mas que a recompensa viria com o retorno <strong>do</strong> líder”.<br />
Nessa fase, Borges destaca a crença nos feitos de Iris pelos tribunais de júri, uma crença