CUNHA, Cileide Alves. Aval do passado - Pós-Graduação em ...
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exigiram que Lucas Vieira Rezende integrasse a coluna. Ele teria se recusa<strong>do</strong>, alegan<strong>do</strong><br />
que precisava ir à cidade comprar r<strong>em</strong>édio para sua mulher, que estava <strong>do</strong>ente. Diante<br />
da negativa, um <strong>do</strong>s homens atirou <strong>em</strong> Lucas. Beraldino test<strong>em</strong>unhou o assassinato. Ele<br />
conseguiu fugir para contar essa versão à família. Lucas Vieira Rezende deixou a<br />
mulher e <strong>do</strong>is filhos, Jessé e Isolina.<br />
“Eu não fui [comunista] porque eu tinha consciência de que o Parti<strong>do</strong><br />
Comunista era liga<strong>do</strong> a Luiz Carlos Prestes [...]. Fui apaixona<strong>do</strong> pelos pobres e então eu<br />
devia ter si<strong>do</strong> comunista. Por que não fui? Por isso. Outro fato: a Igreja Evangélica não<br />
aceitava comunista.” 62 A Igreja Cristã Evangélica, freqüentada pelas famílias materna e<br />
paterna de Iris e, depois, por sua própria família, identifica-se com uma linha históricoconserva<strong>do</strong>ra,<br />
que a<strong>do</strong>ta os pressupostos da Reforma Protestante de 1517,<br />
especialmente a salvação efetuada exclusivamente pela graça de Deus, s<strong>em</strong> nenhum<br />
mérito humano, mediante a fé no sacrifício expiatório de Jesus Cristo. Apesar de ter<br />
si<strong>do</strong> cria<strong>do</strong> <strong>em</strong> uma comunidade evangélica, um padre visitava a fazenda de seu pai uma<br />
vez por mês para celebrar missa, porque a população rural era católica. “Eu aprendi<br />
desde ce<strong>do</strong>, desde menino, a respeitar as autoridades religiosas. [...] Aprendi a tomar<br />
bênção <strong>do</strong> padre, e <strong>do</strong> pastor.” 63<br />
Essa miscelânea deixou o político Iris s<strong>em</strong> ideologia política. Ele age por<br />
intuição, ou por vocação, como prefere. A combinação de valores contraditórios levou-o<br />
a acreditar que um parti<strong>do</strong> pode defender teses de direita ou de esquerda. Mas, acima<br />
dessas teses, “que muitas vezes são subjetivas”, os parti<strong>do</strong>s dev<strong>em</strong> ter compromisso<br />
pessoal com o eleitora<strong>do</strong>, principalmente por ser o Brasil um país de muitas carências<br />
sociais. “Um político t<strong>em</strong> de buscar o parti<strong>do</strong> cujas lideranças têm compromissos<br />
populares.” Ele conseguiu fazer política concilian<strong>do</strong> essas contradições s<strong>em</strong> se sentir<br />
obriga<strong>do</strong> a optar por um la<strong>do</strong>. Aprendeu a conciliar <strong>em</strong> vez de enfrentar as diferenças,<br />
estilo que marcou toda a sua trajetória política: a de pedir bênção ao padre e ao pastor.<br />
reportag<strong>em</strong> especial para o jornal Zero Hora, de Porto Alegre, e depois publicada no livro Coluna Prestes<br />
– O avesso da lenda (Editora Artes e Ofícios, 1994). Eliane refez, 70 anos depois, os 25 mil quilômetros<br />
percorri<strong>do</strong>s pela Coluna Prestes e encontrou test<strong>em</strong>unhas que narraram o la<strong>do</strong> obscuro <strong>do</strong>s viajantes, com<br />
relatos de saques, estupros e até assassinatos.<br />
62 Entrevista <strong>em</strong> 26/11/2007.<br />
63 Entrevista 26/6/2007.<br />
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