CUNHA, Cileide Alves. Aval do passado - Pós-Graduação em ...
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preto, no formato de uma foto, ilustra a seguinte legenda: “Vista de Campinas à noite”<br />
(30/3/62). Em outro dia, um texto ironizava: “O editor-chefe [o jornalista Wagner de<br />
Góes] pediu uma reportag<strong>em</strong> sobre buracos. E não foi nada difícil ao repórter encher a<br />
página. Logo <strong>em</strong> Goiânia, gente” (13/3/62). To<strong>do</strong>s esses probl<strong>em</strong>as foram agrava<strong>do</strong>s<br />
pelo crescimento vertiginoso da cidade.<br />
Iris tomou posse <strong>em</strong> janeiro de 1966 no mesmo dia <strong>em</strong> que começariam a ser<br />
distribuídas as cobranças <strong>do</strong>s impostos predial e territorial urbanos (IPTU e ITU). Sua<br />
primeira decisão foi mandar recolher os talões. Iris conta que inspiran<strong>do</strong>-se <strong>em</strong> Mauro<br />
Borges, se imbuiu da mesma corag<strong>em</strong> que percebera nele para tomar medidas<br />
impopulares e decidiu revisar os valores <strong>do</strong> IPTU e <strong>do</strong> ITU. Foi um trabalho lento, que<br />
levou entre 40 e 50 dias, porque era tu<strong>do</strong> feito a mão. “Revisamos tu<strong>do</strong>: Goiânia,<br />
Campinas, Vila Coimbra, esses setores mais ricos. Esqueci os setores pobres.<br />
Aumentamos mesmo [ele coloca ênfase na palavra mesmo]. Quan<strong>do</strong> saíram esses talões<br />
foi aquele grito, parece que Goiânia ia acabar.” 135<br />
As reclamações chegaram ao ouvi<strong>do</strong> <strong>do</strong> chefe político <strong>do</strong> PSD, o sena<strong>do</strong>r<br />
Pedro Lu<strong>do</strong>vico Teixeira, que man<strong>do</strong>u chamar o prefeito para tirar satisfação.<br />
Ele me disse: “Ô Iris, você exagerou na <strong>do</strong>se de aumento desse imposto.” Eu falei: “Dr. Pedro<br />
esse sofrimento, esse vexame <strong>do</strong> dr. Hélio [de Brito] foi pela falta de corag<strong>em</strong> de cobrar<br />
imposto, porque o Mauro deu autonomia à administração, mas não deu dinheiro para a<br />
prefeitura. Eu não vou esperar que o governo carregue a prefeitura para mim. Não adianta,<br />
então eu tenho que cobrar mesmo.” “Mas Iris, modere, aí.” “Dr. Pedro, o senhor recebeu<br />
algum pobre aqui reclaman<strong>do</strong>, sua casa é cheia também de pobres?” “Não.” “Pois qu<strong>em</strong> está<br />
reclaman<strong>do</strong>, enchen<strong>do</strong> a sua cabeça, é o seu cunha<strong>do</strong> (que era <strong>do</strong>no <strong>do</strong> prédio de<br />
eletromecânica), é fulano, é beltrano.” Falei os nomes [das pessoas] <strong>do</strong> relacionamento dele.<br />
Eu tive corag<strong>em</strong> de aumentar no primeiro ano; tive corag<strong>em</strong> de aumentar no segun<strong>do</strong><br />
também. 136<br />
A pressão foi tão forte que Iris afirma que teria recua<strong>do</strong> se fosse uma pessoa<br />
fraca. Ele acha que, se tivesse volta<strong>do</strong> atrás, sua administração teria si<strong>do</strong> arrasada,<br />
“porque ficaria s<strong>em</strong> recursos para fazer os investimentos que a cidade reclamava.” No<br />
segun<strong>do</strong> ano, ele aumentou os impostos novamente e teve outra vez de prestar contas a<br />
Pedro Lu<strong>do</strong>vico. “Dr. Pedro não deu, foi insuficiente [o aumento das alíquotas], mas<br />
não vou aumentar mais, <strong>do</strong>u minha palavra.” 137 Iris calcula que, quan<strong>do</strong> foi cassa<strong>do</strong>,<br />
90% da população de Goiânia sentiu, “ou mais ou menos”, pois “foi um momento de<br />
135<br />
Entrevista <strong>em</strong> 14/9/2007.<br />
136<br />
Entrevista, ibid<strong>em</strong>.<br />
137<br />
Entrevista <strong>em</strong> 20/2/2008.<br />
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