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CUNHA, Cileide Alves. Aval do passado - Pós-Graduação em ...

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<strong>em</strong>ocional. Racionalmente tomara a decisão, mas não <strong>em</strong>ocionalmente. Restou-me<br />

aguardar o t<strong>em</strong>po certo para que as questões levantadas foss<strong>em</strong> respondidas pelo<br />

entrevista<strong>do</strong>.<br />

Contar uma história modifica as <strong>em</strong>oções e captura o sujeito para a narrativa.<br />

O ato narrativo envolveu Iris e despertou seu desejo de falar sobre si mesmo. Ele quis<br />

contar sua história e contou. O desejo de acertar as contas com o passa<strong>do</strong> surgiu no<br />

momento preciso <strong>em</strong> que retornou à vida pública com a clareza que estava fechan<strong>do</strong> um<br />

ciclo. Vale l<strong>em</strong>brar que sua trajetória política esteve <strong>em</strong> ascensão entre 1958 (sua<br />

primeira vitória eleitoral) e 1998 (sua primeira derrota). A partir de 98, entrou <strong>em</strong><br />

declínio. Sua vitória <strong>em</strong> 2004 proporcionou-lhe a oportunidade de resgatar sua trajetória<br />

de liderança e interromper o ostracismo a que estivera submeti<strong>do</strong>.<br />

Sua narrativa mu<strong>do</strong>u a partir dessa captura. Suas l<strong>em</strong>branças anteriores a essa<br />

fase foram burocráticas. Falava como se estivesse narran<strong>do</strong> a vida de um conheci<strong>do</strong>,<br />

como se o sujeito de suas l<strong>em</strong>branças fosse uma terceira pessoa. Recordava-se de<br />

pessoas (e de seus nomes completos), de suas ligações de parentesco (relacionava-as a<br />

pai, sogro, filho, irmão, como um mo<strong>do</strong> patriarcal de organizar o mun<strong>do</strong>), de datas,<br />

locais e detalhes de acontecimentos, como se descrevesse uma enciclopédia. Depois de<br />

seu envolvimento com o ato narrativo, sua descrição ganhou novos el<strong>em</strong>entos. A<br />

interpretação <strong>do</strong>s fatos, uma tentativa de compreender os rumos de sua vida e dar um<br />

senti<strong>do</strong> a ela, incorporou-se a seu discurso.<br />

Na quinta entrevista, 1 realizada apenas um dia depois da quarta, ele<br />

<strong>em</strong>ocionou-se ao l<strong>em</strong>brar <strong>do</strong> envolvimento da população no mutirão de construção de<br />

mil casas populares <strong>em</strong> apenas um dia, realiza<strong>do</strong> <strong>em</strong> Goiânia <strong>em</strong> seu primeiro governo<br />

(1983–1986), a ponto de chorar. A d<strong>em</strong>onstração de fragilidade constrangeu-o, afinal<br />

Iris é de uma geração de homens treina<strong>do</strong>s a não chorar. Precisou de alguns minutos<br />

para se recuperar. Tomou um café para controlar a voz <strong>em</strong>bargada. Na seqüência, reagiu<br />

como se quisesse restaurar a imag<strong>em</strong> de hom<strong>em</strong> forte e valente, <strong>em</strong> um contraponto à<br />

fragilidade anterior. Referiu-se a um episódio <strong>em</strong> que teria d<strong>em</strong>onstra<strong>do</strong> corag<strong>em</strong> e<br />

1 O irmão mais velho de Iris, o <strong>em</strong>presário Orlan<strong>do</strong> <strong>Alves</strong> Carneiro, morreu <strong>em</strong> 26 de junho de 2006, aos<br />

75 anos, de complicações provocadas por um câncer de próstata contra o qual lutou por sete anos. A<br />

quinta entrevista para esta pesquisa ocorreu no dia <strong>em</strong> que completou um ano de sua morte, <strong>em</strong><br />

26/6/2007, fato l<strong>em</strong>bra<strong>do</strong> por Iris. Naquela ocasião, ele já havia organiza<strong>do</strong> sua agenda para me receber<br />

todas às segundas-feiras, às 15h30 <strong>em</strong> seu apartamento, compromisso que manteve religiosamente.<br />

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