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CUNHA, Cileide Alves. Aval do passado - Pós-Graduação em ...

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As l<strong>em</strong>branças animaram-no. Falou s<strong>em</strong> parar. Preocupada <strong>em</strong> não perder o<br />

controle da entrevista, fiz várias interrupções. Na transcrição, posteriormente, percebi<br />

que a maioria delas tinha si<strong>do</strong> inoportuna, pois cortara raciocínios que ficaram<br />

prejudica<strong>do</strong>s. Detectei também outra falha <strong>em</strong> minha técnica de entrevista: a tentativa<br />

de encerrá-la ao completar as duas horas aconselháveis. Ao meio-dia, depois de mais de<br />

duas horas e meia de conversa, duas delas gravadas, desliguei o grava<strong>do</strong>r,<br />

argumentan<strong>do</strong> que ele deveria estar cansa<strong>do</strong>.<br />

Na realidade, eu estava cansada, não ele. Iris encontrava-se <strong>em</strong> esta<strong>do</strong> de<br />

alerta, continuan<strong>do</strong> a falar. Religuei o grava<strong>do</strong>r, mais <strong>do</strong>is minutos de conversa, quan<strong>do</strong><br />

propus, pela segunda vez, interromper a entrevista, já desligan<strong>do</strong> o grava<strong>do</strong>r.<br />

Novamente ele desconheceu minha sugestão e meu gesto e continuou a falar,<br />

obrigan<strong>do</strong>-me a religar o aparelho pela terceira vez, trecho que ficou com 37 minutos e<br />

46 segun<strong>do</strong>s. Só então consegui convencê-lo a parar. As três gravações somaram 2<br />

horas, 38 minutos e 16 segun<strong>do</strong>s, mas ele falou por muito mais t<strong>em</strong>po, das 9h30 até<br />

perto das 13 horas. Todavia, n<strong>em</strong> tu<strong>do</strong> foi grava<strong>do</strong> <strong>em</strong> razão de minha ansiedade.<br />

Rosenthal questiona ao pesquisa<strong>do</strong>r que trabalha com autobiografias escritas,<br />

ou com transcrições obtidas de relatos históricos de vida, se ele suspeita se esse material<br />

poderá ser uma distorção de fatos objetivos e se, então, tenta “tapar os buracos” para<br />

encontrar o “mun<strong>do</strong> real por trás das palavras”. Para o autor, essa disputa entre “texto” e<br />

“vida” <strong>em</strong> busca de uma realidade social que se supõe “independente da experiência de<br />

vida e da estruturação simbólica, implican<strong>do</strong> a busca unilateral de uma realidade ‘por<br />

trás’ <strong>do</strong> texto” (2006, 193-194), leva o pesquisa<strong>do</strong>r a deixar de analisar a história de<br />

vida como unidade <strong>em</strong> si mesma. Para ele, isso produz resulta<strong>do</strong>s decepcionantes. “Só<br />

passa a ser interessante quan<strong>do</strong> descobrimos que a realidade que procuramos lá está<br />

aqui” (2006, p. 194, grifo <strong>do</strong> autor).<br />

Rosenthal observa que é comum ao entrevista<strong>do</strong>r tentar ordenar o “caos” de<br />

uma narrativa, baseada <strong>em</strong> multiplicidade de acontecimentos e de experiências que<br />

parec<strong>em</strong> dissocia<strong>do</strong>s uns <strong>do</strong>s outros. A primeira preocupação <strong>do</strong> entrevista<strong>do</strong>r é induzir<br />

o entrevista<strong>do</strong> a promover associações, a organizar a sua estrutura narrativa. Ele critica<br />

essa postura, pois considera que as test<strong>em</strong>unhas, ao narrar suas experiências durante<br />

horas seguidas, elaboram um conjunto que “se encaixa”. “Em outras palavras, cada<br />

relato individual t<strong>em</strong> uma significação funcional para o quadro completo” (2006, p.<br />

195).<br />

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