CUNHA, Cileide Alves. Aval do passado - Pós-Graduação em ...
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171<br />
O que ele gosta mesmo é <strong>do</strong> contato com o povo, aí ele vai com muita disposição e o povo<br />
percebe isso, a espontaneidade dele. Já <strong>em</strong> qualquer evento da elite, a forma<strong>do</strong>ra de opinião,<br />
tanto a elite intelectual como a elite financeira, eu percebo o Iris desconfortável e ele transmite<br />
esse desconforto. Ele é o primeiro a chegar a uma festa e o primeiro a sair. [...] Eu acho que<br />
não t<strong>em</strong> afinidade [com a elite]. Não faz parte das preocupações dele. Ao mesmo t<strong>em</strong>po como<br />
to<strong>do</strong> político ele sente a reação, mas não faz nada para alterar a reação. 262<br />
Filho de Peixoto da Silveira, Flávio Peixoto acompanhou a política goiana<br />
desde a sua infância e observa que a falta de “afinidade” de Iris com a elite é atípica,<br />
porque a política goiana s<strong>em</strong>pre foi feita pelas elites. Iris não desconhece esse fato, pois<br />
procurou se aproximar da elite política para ter futuro na carreira e se juntou à mais<br />
forte delas, o grupo heg<strong>em</strong>ônico <strong>do</strong> PSD de Pedro Lu<strong>do</strong>vico. Ele não se mistura, mas<br />
isso não quer dizer que ele não saiba conviver e atender também os interesses dessa<br />
camada da população. Sua opção por governos que invest<strong>em</strong> <strong>em</strong> infra-estrutura, por<br />
ex<strong>em</strong>plo, aju<strong>do</strong>u a fazer “muitas fortunas <strong>em</strong> Goiás”, diz Flávio.<br />
“Que a b<strong>em</strong> da verdade se esclareça uma coisa: Iris é um moço que, apesar de<br />
defender a bandeira <strong>do</strong>s pobres, é tranqüila, segura e (por absur<strong>do</strong> que pareça)<br />
simpaticamente reacionário. Não aceita nenhuma idéia nova, pode ser de política, de<br />
moral, de economia ou de qualquer outra coisa”, escreveu o repórter José Carlos Marão<br />
<strong>em</strong> um <strong>do</strong>s textos de sua reportag<strong>em</strong> sobre Iris há 42 anos (Realidade, p. 29). Essa<br />
aparente contradição indica que a falta de afinidade não é <strong>em</strong> relação à elite, mas aos<br />
lugares que ela freqüenta. O que falta entre ele e o grupo é convivência social, o que não<br />
quer dizer falta de convivência política. Como agente político experiente, ele cumpre<br />
to<strong>do</strong>s os seus papéis no jogo <strong>do</strong> campo político, relacionan<strong>do</strong>-se tanto com o povo<br />
quanto com a elite. A diferença é que a relação com a elite é uma obrigação profissional<br />
e com o povo, por prazer, pois é este que alimenta sua popularidade e lhe garante<br />
reconhecimento público, seu maior desejo de felicidade, que por sua vez se transforma<br />
<strong>em</strong> votos e estes <strong>em</strong> mandatos eletivos.<br />
Iris começou a fazer política no auge <strong>do</strong> populismo no Brasil (1956–1964), 263<br />
cujo ciclo completo, de acor<strong>do</strong> com vários autores, vai <strong>do</strong> golpe de Getúlio Vargas, <strong>em</strong><br />
1930, até o golpe militar contra João Goulart, <strong>em</strong> 1964. Iris se considera um político<br />
popular “[...] extr<strong>em</strong>amente integra<strong>do</strong> com o povo, com a gente com a qual me<br />
262 Entrevista <strong>em</strong> 5/9/2007.<br />
263 Jorge Ferreira discorda que o populismo coman<strong>do</strong>u as relações entre Esta<strong>do</strong> e sociedade nesse perío<strong>do</strong>,<br />
um consenso entre vários autores, pois sequer acredita que o perío<strong>do</strong> tenha si<strong>do</strong> “populista”, mas sim<br />
como uma categoria que foi imaginada e construída para explicar essa política (2001, p. 63–64).