CUNHA, Cileide Alves. Aval do passado - Pós-Graduação em ...
CUNHA, Cileide Alves. Aval do passado - Pós-Graduação em ...
CUNHA, Cileide Alves. Aval do passado - Pós-Graduação em ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
144<br />
vive da missão, economicamente falan<strong>do</strong>. Viver da causa é uma conseqüência da<br />
primeira opção, que é lutar por esse ideal. 239<br />
Ao concordar com a teoria weberiana, Bourdieu afirma: “É, com efeito, na<br />
relação entre os profissionais que se define a espécie particular de interesse pela política<br />
que determina cada categoria de mandatários a consagrar-se à política e, por este meio,<br />
aos seus mandantes.” Seguin<strong>do</strong> por essa trilha, como o profissional se relaciona com<br />
seus concorrentes, é possível, então, chegar à sua relação com seu público, que para<br />
Bourdieu está interligada, pois os políticos “serv<strong>em</strong> os interesses de seus clientes 240 na<br />
medida <strong>em</strong> que (e só nessa medida) se serv<strong>em</strong> também aos servi-los” (1989, p. 176–<br />
177).<br />
Os 50 anos de prática política deram a Iris algumas convicções sobre a<br />
política. Ele também t<strong>em</strong> suas teorias. L<strong>em</strong>bra que é por intermédio da política que se<br />
chega ao poder e que o poder atrai os “desqualifica<strong>do</strong>s”. Chegou a criar uma figura de<br />
linguag<strong>em</strong> para classificar esse tipo de político: “O poder atrai as pessoas de má ín<strong>do</strong>le<br />
como a luz na floresta atrai as moscas à noite” A política, diz, atrai <strong>do</strong>is tipos de<br />
pessoas: as de b<strong>em</strong> que buscam o poder, movidas por um sentimento <strong>em</strong> prol de uma<br />
causa, como o presidente de uma associação de mora<strong>do</strong>res ou o de uma associação<br />
classista, que não têm vantagens financeiras com essa liderança, e as pessoas que tiram<br />
proveito <strong>do</strong> poder público, seja aproveitan<strong>do</strong> <strong>do</strong>s recursos públicos (corrupção) ou da<br />
força <strong>do</strong> poder para obter vantagens na área privada (tráfico de influência).<br />
Iris Rezende é um tipo de político vocaciona<strong>do</strong>, não vive a política apenas<br />
ocasionalmente, vive-a diuturnamente. Ele não t<strong>em</strong> prazer <strong>em</strong> outras atividades. Não<br />
gosta de freqüentar restaurantes, cin<strong>em</strong>as, clubes; de viajar de férias. Seu talento, que<br />
ele considera nato, no entanto, foi treina<strong>do</strong>, estimula<strong>do</strong>. A pianista Belkiss Men<strong>do</strong>nça,<br />
que ele cita como ex<strong>em</strong>plo de qu<strong>em</strong> teve um <strong>do</strong>m divino, tornou-se uma exímia pianista<br />
239 Interessa-nos o conceito weberiano de político que vive a serviço da causa. Mas ele tipifica o político,<br />
que vive “da” política, movi<strong>do</strong> pelo interesse <strong>em</strong> obter rendimento econômico. “Qu<strong>em</strong> luta para fazer da<br />
política uma fonte de renda permanente, vive ‘da’ política como vocação, ao passo que qu<strong>em</strong> não age<br />
assim vive ‘para’ a política” (1982, p. 105, grifos <strong>do</strong> autor). A precondição para um político viver “para”<br />
a política é que ele seja economicamente independente da renda da política. Isso significa que a política<br />
requisitava homens na plutocracia, entre os que detêm economicamente os meios de produção. Weber,<br />
então, destaca que a política nesse senti<strong>do</strong>, pode ser conduzida por homens independentes (ricos ou que<br />
viv<strong>em</strong> de rendas) ou por homens s<strong>em</strong> propriedade e que necessitam de recompensas (1982, p. 107).<br />
240 Bourdieu utiliza expressões da ciência econômica para analisar as atividades políticas, como merca<strong>do</strong>,<br />
oligopólio, consumi<strong>do</strong>res ou clientes (os eleitores), produção (as propostas e idéias de políticos), unidades<br />
de produção (os parti<strong>do</strong>s políticos) etc.