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CUNHA, Cileide Alves. Aval do passado - Pós-Graduação em ...

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vive da missão, economicamente falan<strong>do</strong>. Viver da causa é uma conseqüência da<br />

primeira opção, que é lutar por esse ideal. 239<br />

Ao concordar com a teoria weberiana, Bourdieu afirma: “É, com efeito, na<br />

relação entre os profissionais que se define a espécie particular de interesse pela política<br />

que determina cada categoria de mandatários a consagrar-se à política e, por este meio,<br />

aos seus mandantes.” Seguin<strong>do</strong> por essa trilha, como o profissional se relaciona com<br />

seus concorrentes, é possível, então, chegar à sua relação com seu público, que para<br />

Bourdieu está interligada, pois os políticos “serv<strong>em</strong> os interesses de seus clientes 240 na<br />

medida <strong>em</strong> que (e só nessa medida) se serv<strong>em</strong> também aos servi-los” (1989, p. 176–<br />

177).<br />

Os 50 anos de prática política deram a Iris algumas convicções sobre a<br />

política. Ele também t<strong>em</strong> suas teorias. L<strong>em</strong>bra que é por intermédio da política que se<br />

chega ao poder e que o poder atrai os “desqualifica<strong>do</strong>s”. Chegou a criar uma figura de<br />

linguag<strong>em</strong> para classificar esse tipo de político: “O poder atrai as pessoas de má ín<strong>do</strong>le<br />

como a luz na floresta atrai as moscas à noite” A política, diz, atrai <strong>do</strong>is tipos de<br />

pessoas: as de b<strong>em</strong> que buscam o poder, movidas por um sentimento <strong>em</strong> prol de uma<br />

causa, como o presidente de uma associação de mora<strong>do</strong>res ou o de uma associação<br />

classista, que não têm vantagens financeiras com essa liderança, e as pessoas que tiram<br />

proveito <strong>do</strong> poder público, seja aproveitan<strong>do</strong> <strong>do</strong>s recursos públicos (corrupção) ou da<br />

força <strong>do</strong> poder para obter vantagens na área privada (tráfico de influência).<br />

Iris Rezende é um tipo de político vocaciona<strong>do</strong>, não vive a política apenas<br />

ocasionalmente, vive-a diuturnamente. Ele não t<strong>em</strong> prazer <strong>em</strong> outras atividades. Não<br />

gosta de freqüentar restaurantes, cin<strong>em</strong>as, clubes; de viajar de férias. Seu talento, que<br />

ele considera nato, no entanto, foi treina<strong>do</strong>, estimula<strong>do</strong>. A pianista Belkiss Men<strong>do</strong>nça,<br />

que ele cita como ex<strong>em</strong>plo de qu<strong>em</strong> teve um <strong>do</strong>m divino, tornou-se uma exímia pianista<br />

239 Interessa-nos o conceito weberiano de político que vive a serviço da causa. Mas ele tipifica o político,<br />

que vive “da” política, movi<strong>do</strong> pelo interesse <strong>em</strong> obter rendimento econômico. “Qu<strong>em</strong> luta para fazer da<br />

política uma fonte de renda permanente, vive ‘da’ política como vocação, ao passo que qu<strong>em</strong> não age<br />

assim vive ‘para’ a política” (1982, p. 105, grifos <strong>do</strong> autor). A precondição para um político viver “para”<br />

a política é que ele seja economicamente independente da renda da política. Isso significa que a política<br />

requisitava homens na plutocracia, entre os que detêm economicamente os meios de produção. Weber,<br />

então, destaca que a política nesse senti<strong>do</strong>, pode ser conduzida por homens independentes (ricos ou que<br />

viv<strong>em</strong> de rendas) ou por homens s<strong>em</strong> propriedade e que necessitam de recompensas (1982, p. 107).<br />

240 Bourdieu utiliza expressões da ciência econômica para analisar as atividades políticas, como merca<strong>do</strong>,<br />

oligopólio, consumi<strong>do</strong>res ou clientes (os eleitores), produção (as propostas e idéias de políticos), unidades<br />

de produção (os parti<strong>do</strong>s políticos) etc.

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