CUNHA, Cileide Alves. Aval do passado - Pós-Graduação em ...
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Esse “moço <strong>do</strong> interior” não tinha formação política n<strong>em</strong> ideológica, apenas a<br />
mesma simpatia natural <strong>do</strong>s estudantes da época pela oposição. Na política estudantil,<br />
ele não era de esquerda n<strong>em</strong> de direita. Elegeu-se presidente <strong>do</strong> grêmio <strong>do</strong> Liceu contra<br />
os líderes esquerdistas, mas s<strong>em</strong> se declarar de direita. Essa indefinição ideológica ele<br />
conservaria por toda sua carreira política. “Eu tenho o que é bom da esquerda e o que é<br />
bom da direita”, vangloria-se, s<strong>em</strong> modéstia, passa<strong>do</strong>s quase 50 anos de sua estréia na<br />
militância partidária. E explica sua posição:<br />
De esquerda, porque eu defen<strong>do</strong> o poder como instrumento de busca de qualidade de vida para<br />
os pequenos. Normalmente, a tendência da esquerda foi essa, defender os interesses <strong>do</strong>s<br />
desassisti<strong>do</strong>s, os interesses <strong>do</strong>s que se consideram órfãos da atenção <strong>do</strong> poder. O que a<br />
esquerda s<strong>em</strong>pre defendeu? A reforma agrária. Eu defen<strong>do</strong> também. O Esta<strong>do</strong> como<br />
instrumento que proporcione educação, que proporcione saúde, eu também [...].<br />
E mais adiante explica o que ele acha ter da direita:<br />
É você não inibir o cidadão quanto à possibilidade de progredir na vida, de aumentar seus<br />
bens, de buscar dias melhores para a sua vida, para sua família [...]. O socialismo absoluto tira<br />
esse espírito de competitividade das pessoas. Eu pergunto, uma <strong>em</strong>presa privada que constrói<br />
apartamentos, não des<strong>em</strong>penha melhor <strong>do</strong> que uma <strong>em</strong>presa pública? 59<br />
Iris l<strong>em</strong>bra que fez política estudantil <strong>em</strong> uma época <strong>em</strong> que “o estudante<br />
evoluí<strong>do</strong> tinha de optar pela esquerda.” 60 Além disso, ele se considerava uma pessoa<br />
“atrevida e determinada” nessa fase da juventude, características que, observa, poderiam<br />
tê-lo aproxima<strong>do</strong> naturalmente <strong>do</strong>s comunistas. Só que um drama vivi<strong>do</strong> pela família de<br />
sua mãe, <strong>em</strong> mea<strong>do</strong>s da década de 20, e também a orientação religiosa e conserva<strong>do</strong>ra<br />
que recebeu da Igreja Cristã Evangélica, deixaram marcas <strong>em</strong> sua formação que, no<br />
futuro, o afastaram <strong>do</strong> comunismo.<br />
Iris l<strong>em</strong>bra-se de que cresceu ouvin<strong>do</strong>, repetidas vezes, os relatos sobre o<br />
assassinato de seu tio Lucas Vieira Rezende, irmão de sua mãe, Genoveva Rezende<br />
Carneiro. Lucas morava com a família <strong>em</strong> uma fazenda <strong>em</strong> Santa Cruz, próximo de<br />
Cristianópolis. Segun<strong>do</strong> essa versão, um dia ele foi a cavalo à cidade, acompanha<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
irmão caçula, Beraldino Vieira, de apenas oito anos de idade, comprar r<strong>em</strong>édio para sua<br />
mulher. No caminho os <strong>do</strong>is irmãos encontraram-se com um grupo de homens arma<strong>do</strong>s<br />
que seriam solda<strong>do</strong>s de Luiz Carlos Prestes. 61 De acor<strong>do</strong> com esses relatos, os homens<br />
59<br />
Entrevista <strong>em</strong> 18/06/2007.<br />
60<br />
Entrevista <strong>em</strong> 26/11/2007.<br />
61 A Coluna Prestes passou por Goiás <strong>em</strong> duas ocasiões: <strong>em</strong> 1925, marchan<strong>do</strong> <strong>em</strong> direção ao Norte <strong>do</strong><br />
País, e no final de 1926, voltan<strong>do</strong> rumo ao exílio na Bolívia. A violência de solda<strong>do</strong>s de Prestes contra<br />
mora<strong>do</strong>res das regiões por onde a coluna marchou foi investigada pela jornalista Eliane Brum <strong>em</strong> uma<br />
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