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CUNHA, Cileide Alves. Aval do passado - Pós-Graduação em ...

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181<br />

na veracidade <strong>do</strong>s relatos, independent<strong>em</strong>ente de comprovação, configuran<strong>do</strong> uma<br />

crença irracional e expressan<strong>do</strong> a condição de existência <strong>do</strong> mito. No seu primeiro<br />

governo, Moisés funde-se a Sólon: Iris, o governante zeloso da aplicação das leis,<br />

sobrepõe-se ao “condutor messiânico”. Concluí<strong>do</strong> o segun<strong>do</strong> governo, já eleito sena<strong>do</strong>r,<br />

surge a figura <strong>do</strong> Cincinatus: o defensor da unidade e <strong>do</strong> consenso entre os goianos,<br />

“valores de apaziguar, proteger, restaurar” (Borges, 1998, p. 181–188).<br />

Pelas condições políticas <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> pós-deposição, e outras que não cab<strong>em</strong><br />

tratar neste momento, Mauro Borges, que no passa<strong>do</strong> foi prepara<strong>do</strong> por seu pai para ser<br />

seu herdeiro político, não sedimentou no imaginário da população goiana, durante o<br />

perío<strong>do</strong> de sua cassação, uma imag<strong>em</strong> mítica para sustentar o capital eleitoral que ele<br />

formou por ocasião de seu governo (1960–1964). A representação de um governo<br />

inova<strong>do</strong>r, moderniza<strong>do</strong>r das estruturas administrativas <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, preparan<strong>do</strong> Goiás<br />

para entrar no processo de expansão <strong>do</strong> capitalismo, de um político que enfrentou e<br />

combateu práticas políticas tradicionais, mesmo contra a vontade <strong>do</strong> próprio pai, ficou<br />

restrita ao conhecimento <strong>do</strong>s integrantes <strong>do</strong> campo político. Mauro manteve seu capital<br />

político apenas entre os profissionais da política, políticos alia<strong>do</strong>s e de oposição, e entre<br />

os setores forma<strong>do</strong>res da opinião pública, s<strong>em</strong> conseguir difundi-la à população como<br />

um to<strong>do</strong>.<br />

Mauro Borges relata <strong>em</strong> seu livro o papel de seu pai na construção de sua<br />

candidatura a governa<strong>do</strong>r <strong>em</strong> 1960:<br />

Falei-lhe da minha perspectiva, da inspiração de candidatar-me a governa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. Pedi<br />

sua opinião como pai e chefe político, perguntei-lhe se eu estava prepara<strong>do</strong> para exercer, caso<br />

eleito, o cargo de governa<strong>do</strong>r de Goiás. Respondeu-me, com a sua experiência, que eu possuía<br />

todas as condições para essa disputa, que não havia ninguém melhor <strong>do</strong> que eu, pois ele<br />

conhecia de perto minha formação e que eu podia contar com seu apoio <strong>em</strong> tu<strong>do</strong> que fosse<br />

necessário para viabilizar minha vitória eleitoral. (2002, p.177)<br />

Em 1979, o político prepara<strong>do</strong> pelo pai na década de 60 para herdar o<br />

coman<strong>do</strong> <strong>do</strong> maior grupo político já não mais dispunha das credenciais para receber<br />

essa herança. Aquino (2005 p. 230) afirma que o golpe de 1964 abortou o projeto de<br />

Pedro Lu<strong>do</strong>vico, que preparava o caminho de Mauro para sucedê-lo na chefia <strong>do</strong><br />

parti<strong>do</strong>. As duas décadas <strong>em</strong> que Mauro ficou cassa<strong>do</strong>, no ostracismo político, criaram<br />

um vácuo, impedin<strong>do</strong> o “litígio histórico” de se completar. Aquino pergunta-se, caso o<br />

processo tivesse caminha<strong>do</strong> naturalmente, se a hereditariedade lu<strong>do</strong>viquista teria<br />

prevaleci<strong>do</strong>. Qualquer tentativa de resposta não passará de suposições. É impossível<br />

reconstituir o que Mauro Borges faria caso o golpe de 1964 não tivesse aborta<strong>do</strong> seu

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