CUNHA, Cileide Alves. Aval do passado - Pós-Graduação em ...
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identifico, com os humildes, os carentes, os pobres e os sofri<strong>do</strong>s”, mas não se identifica<br />
como um populista porque faz a seguinte distinção entre ser popular e ser populista:<br />
O popular é o que de fato se identifica com o povo, o populista é aquele que se comporta de<br />
acor<strong>do</strong> com as manifestações populares, sejam viáveis ou não. Como líder, s<strong>em</strong>pre tomei<br />
minhas decisões s<strong>em</strong> t<strong>em</strong>er n<strong>em</strong> sequer contrariar momentaneamente o povo, para fazer um<br />
b<strong>em</strong> permanente para este mesmo povo. (Rocha, 2004, p. 229).<br />
Sua reação contra o populismo pode ser explicada pelo estigma <strong>em</strong> torno <strong>do</strong><br />
conceito no uso corrente na sociedade:<br />
São populistas os políticos que enganam o povo com promessas nunca cumpridas ou, pior<br />
ainda, os que articulam retórica fácil com falta de caráter <strong>em</strong> nomes de interesses pessoais. É o<br />
populismo, afinal, que d<strong>em</strong>onstra como “o povo não sabe votar” ou, <strong>em</strong> versão mais otimista,<br />
“ainda não aprendeu a votar”. (Gomes, 2001, p. 21).<br />
Gomes faz uma “trajetória acadêmica <strong>do</strong> conceito” <strong>do</strong> populismo. De acor<strong>do</strong><br />
com sua pesquisa, as primeiras formulações indicam que o populismo é uma política de<br />
massas, vinculada à proletarização na sociedade moderna, s<strong>em</strong> consciência de classe.<br />
Em segun<strong>do</strong> lugar, está associa<strong>do</strong> à certa “conformação da classe dirigente”, que perdeu<br />
representatividade e busca apoio político nas massas <strong>em</strong>ergentes. Para completar o<br />
ciclo, “o surgimento <strong>do</strong> líder populista, <strong>do</strong> hom<strong>em</strong> carrega<strong>do</strong> de carisma capaz de<br />
mobilizar as massas e <strong>em</strong>polgar o poder” (2001, p. 24–25).<br />
O conceito ganhou variações nas formulações de vários estudiosos, entre eles,<br />
Weffort, um <strong>do</strong>s principais teóricos <strong>do</strong> t<strong>em</strong>a. Gomes observa que Weffort aponta para a<br />
instabilidade política <strong>do</strong> novo quadro pós Revolução de 30, pelo equilíbrio político<br />
frágil entre a velha oligarquia rural e as “oligarquias alternativas”. Essa instabilidade,<br />
então, provocou a aproximação com as classes populares, “percebidas e t<strong>em</strong>idas pelos<br />
grupos dirigentes, mas s<strong>em</strong> condições organizacionais e ideológicas de pressionar por<br />
uma participação mais efetiva” (2001, p. 33). Weffort propõe o conceito de Esta<strong>do</strong> de<br />
Compromisso: que mantém compromisso com os grupos <strong>do</strong>minantes, compromisso<br />
com o Esta<strong>do</strong> e com as classes populares, abrin<strong>do</strong> espaço para o surgimento <strong>do</strong> poder<br />
pessoal <strong>do</strong> líder (2001, p. 33).<br />
Conceitos, como estes aqui resumi<strong>do</strong>s, foram pensa<strong>do</strong>s, destaca Gomes, sob a<br />
influência de suas épocas, condições essas que se modificam a partir <strong>do</strong>s fins <strong>do</strong>s anos<br />
70 e anos 80, por vários fatores, entre eles as mudanças nas referências intelectuais.<br />
Gomes, então, se propôs <strong>em</strong> A invenção <strong>do</strong> trabalhismo, sua tese de <strong>do</strong>utoramento, <strong>em</strong><br />
1987, “iluminada pelas novas contribuições da produção internacional sobre a<br />
formulação da classe trabalha<strong>do</strong>ra”, a realizar uma interpretação histórica alternativa,