CUNHA, Cileide Alves. Aval do passado - Pós-Graduação em ...
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sucederia o presidente Castello Branco. Iris foi cassa<strong>do</strong> <strong>em</strong> função da disputa políticoeleitoral<br />
com a Arena, mas manteve sua relação amigável com os militares. As<br />
condições políticas da deposição de Mauro impossibilitaram que ele continuasse <strong>em</strong><br />
Goiânia, como aconteceu a Iris. Este teve relativa liberdade para circular pela cidade e<br />
até para criar as condições futuras para seu retorno, o que a Mauro não foi possível.<br />
Quan<strong>do</strong> a anistia foi aprovada, <strong>em</strong> agosto de 1979, e recomeçaram as<br />
atividades políticas proibidas nos anos de chumbo da ditadura, a imag<strong>em</strong> de “vítima <strong>do</strong>s<br />
militares” estava associada mais a Iris Rezende <strong>do</strong> que a Mauro Borges e não pelo que<br />
aconteceu a ambos, mas pelo enraizamento no imaginário popular da representação “<strong>do</strong><br />
bom administra<strong>do</strong>r vítima de uma grande injustiça”. Em 17 de outubro de 1979, dia <strong>em</strong><br />
que terminou a suspensão de seus direitos políticos, a Câmara de Goiânia fez uma<br />
solenidade para com<strong>em</strong>orar o retorno de Iris à política, um ritual que concluía a<br />
representação sobre aqueles dez anos imposta à opinião pública. “A cassação de seus<br />
direitos políticos interrompe a carreira institucional <strong>do</strong> líder, mas, de outro la<strong>do</strong>,<br />
provoca a ascensão da liderança ao plano legendário”, pois a repressão provoca “o<br />
enraizamento das condições subjetivas para o <strong>do</strong>mínio político de Iris” (Borges,1998, p.<br />
179–180).<br />
Como se dá a passag<strong>em</strong> de um fato histórico ao mítico? Para compreender<br />
esta questão, proposta por Girardet (1987, p.71), é preciso entender como se dá a<br />
construção <strong>do</strong> mito político. Para atrair o público, o político expõe-se por meio de<br />
mensagens que “encerram programas mínimos e máximos, projetos utópicos, promessas<br />
de curto prazo”, afirma Miguel (2000). A construção dessas mensagens pode,<br />
paralelamente, contribuir para a formação <strong>do</strong> mito político:<br />
Mas pod<strong>em</strong> incluir também, <strong>em</strong> paralelo ou no interior dessas mesmas construções<br />
discursivas, núcleos imagéticos ou simbólicos fort<strong>em</strong>ente irracionais. Tais el<strong>em</strong>entos formam<br />
os mitos políticos. Seu traço fundamental é a promoção de uma relação <strong>em</strong>ocionalizada entre<br />
o público e os conteú<strong>do</strong>s da mensag<strong>em</strong> política. (2000, p. 11)<br />
Girardet afirma que “o mito político é fabulação, deformação ou interpretação<br />
objetivamente recusável <strong>do</strong> real. Mas, narrativa legendária, é verdade que ele exerce<br />
também uma função explicativa, fornecen<strong>do</strong> certo número de chaves para a<br />
compreensão <strong>do</strong> presente”, papel de explicação que, para Girardet, se des<strong>do</strong>bra também<br />
<strong>em</strong> um papel de mobilização. O mito é mobilização ou “força motriz”, é “uma arma na<br />
luta política; seu senti<strong>do</strong> é mobilizar, <strong>em</strong>purrar para ação” (Miguel, 2000, p. 32).<br />
Girardet destaca o caráter de “fluidez” e de “ambivalência” <strong>do</strong> mito político, mas diz