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CUNHA, Cileide Alves. Aval do passado - Pós-Graduação em ...

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sobre a condição financeira de sua família depois da mudança de Cristianópolis para<br />

Goiânia. Esse assunto trouxe ao centro da conversa seu irmão Orlan<strong>do</strong>, morto<br />

recent<strong>em</strong>ente, e isso o sensibilizou. Nesse dia ele falou apenas <strong>do</strong> irmão, apresentan<strong>do</strong>-o<br />

como o <strong>em</strong>presário da família, a pessoa que dirigiu os negócios de seu pai, Filostro<br />

Carneiro Macha<strong>do</strong> – o laticínio Jerivá, <strong>em</strong> Goiânia e, depois, uma filial <strong>em</strong> Anicuns, e<br />

posteriormente o frigorífico Vera Cruz, <strong>em</strong> Goiânia. Iris <strong>em</strong>ocionou-se, exaltou as<br />

qualidades <strong>do</strong> irmão como <strong>em</strong>presário e como a pessoa que lhe deu o suporte financeiro<br />

para atuar na política. Deixei-o à vontade, assim como nos d<strong>em</strong>ais encontros. Neste dia,<br />

não eu, mas a agenda interrompeu a conversa.<br />

Estabeleci uma rotina de abrir as entrevistas <strong>do</strong> ponto interrompi<strong>do</strong> no<br />

encontro anterior, deixan<strong>do</strong>-o conduzir sua narrativa. Minhas interrupções ficaram mais<br />

proveitosas, apenas <strong>em</strong> caso de necessidade, como um nome não revela<strong>do</strong>, uma data<br />

esquecida, um fato não muito claro, e na seqüência de sua narrativa, s<strong>em</strong> tentar quebrarlhe<br />

a própria ord<strong>em</strong>. Seu discurso perdeu, então, a linearidade. Antes, leva<strong>do</strong> por minhas<br />

intervenções, ele contava os fatos encadea<strong>do</strong>s pelas datas <strong>do</strong>s acontecimentos. Depois,<br />

sua narrativa deixou de ser diacrônica: o t<strong>em</strong>po já não era mais linear, prevaleceu a<br />

pluralidade t<strong>em</strong>poral. As histórias não mais foram narradas como se passa<strong>do</strong>, presente e<br />

futuro tivess<strong>em</strong> ocorri<strong>do</strong> nessa seqüência, mas com a inter-relação entre os três t<strong>em</strong>pos.<br />

Fazer entrevistas é lidar com as l<strong>em</strong>branças e com toda a sua probl<strong>em</strong>ática: o<br />

esquecimento, a l<strong>em</strong>brança parcial, a confusão entre o fato aconteci<strong>do</strong> e o que se<br />

acredita ter aconteci<strong>do</strong>, a reprodução <strong>do</strong> que se ouviu dizer toma<strong>do</strong> como fato etc. A<br />

técnica de entrevista é fundamental para a obtenção de um bom material de trabalho,<br />

conforme observa o jornalista Sergio Vilas Boas (2002). Apoian<strong>do</strong>-se no historia<strong>do</strong>r<br />

Paul Thompson, ele afirma haver equivalência “entre as práticas <strong>do</strong> historia<strong>do</strong>r oral e <strong>do</strong><br />

repórter investigativo” (p. 62).<br />

Há algumas qualidades essenciais que o entrevista<strong>do</strong>r b<strong>em</strong>-sucedi<strong>do</strong> deve possuir: interesse e<br />

respeito pelos outros como pessoas e flexibilidade nas reações <strong>em</strong> relação a eles; capacidade<br />

de d<strong>em</strong>onstrar compreensão e simpatia pela opinião deles; e, acima de tu<strong>do</strong>, disposição para<br />

ficar cala<strong>do</strong> e escutar. Qu<strong>em</strong> não consegue parar de falar, n<strong>em</strong> resistir à tentação de discordar<br />

<strong>do</strong> informante ou de lhe impor suas próprias idéias, irá obter informações que, ou são inúteis,<br />

ou positivamente enganosas. (Thompson, 1992, p. 254).<br />

O autor defende uma entrevista completamente livre quan<strong>do</strong> se quer não<br />

apenas informações ou evidências, mas também conhecer o mo<strong>do</strong> como a pessoa fala<br />

sobre a própria vida, “[...] como a ordena, a que dá destaque, o que deixa de la<strong>do</strong>, as<br />

palavras que escolhe, é que são importantes para a compreensão de qualquer entrevista;<br />

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