CUNHA, Cileide Alves. Aval do passado - Pós-Graduação em ...
CUNHA, Cileide Alves. Aval do passado - Pós-Graduação em ...
CUNHA, Cileide Alves. Aval do passado - Pós-Graduação em ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
155<br />
Iris concorda que o espírito transforma<strong>do</strong>r é próprio <strong>do</strong>s moços, mas que<br />
“acima de tu<strong>do</strong>, lhes é da<strong>do</strong> refletir, criticar e optar por aqueles ideais que se identificam<br />
com seu idealismo renova<strong>do</strong>r”. Por isso, diz, ele e Nasser estão <strong>em</strong> posições políticas<br />
contrárias, “um lutan<strong>do</strong> contra o t<strong>em</strong>po e a época e o outro colaboran<strong>do</strong> com um<br />
governo honesto, realiza<strong>do</strong>r, identifica<strong>do</strong> com os interesses <strong>do</strong>s jovens e <strong>do</strong> povo<br />
goiano”. Conclui seu artigo insinua<strong>do</strong> que pessoas como Nasser são movidas por<br />
“complexos, quan<strong>do</strong> vê<strong>em</strong> <strong>em</strong> outro a possibilidade de ser aquilo que nunca puderam<br />
ser”. (O Popular, 22/10/64, pp. 3 e 7). A polêmica entre os <strong>do</strong>is terminou aí. No sába<strong>do</strong><br />
seguinte, 24 de outubro, uma nota na capa <strong>do</strong> Popular informa que Nasser não falara na<br />
TV no dia anterior. Ele voltou a discursar <strong>em</strong> 31 de outubro e, no dia seguinte, O<br />
Popular publicou “Os equívocos de Mauro Borges”.<br />
A artilharia de Alfre<strong>do</strong> Nasser, o mais importante e um <strong>do</strong>s mais respeita<strong>do</strong>s<br />
ora<strong>do</strong>res da oposição, contra Iris Rezende não acontecia por acaso e muito menos<br />
porque este tinha deixa<strong>do</strong> de providenciar segurança para proteger a vida <strong>do</strong> deputa<strong>do</strong><br />
Ary Valadão. O discurso na TV, e sua publicação pelo Popular, aconteceu no auge da<br />
luta política entre a oposição e o PSD e a pouco mais de um mês da deposição de<br />
Mauro. Nesse perío<strong>do</strong>, Iris já era o candidato da família Lu<strong>do</strong>vico a prefeito de Goiânia<br />
e participava da luta política contra a UDN <strong>em</strong> prol <strong>do</strong> PSD.<br />
Iris nunca se esqueceu desse artigo. Guarda nas l<strong>em</strong>branças os detalhes das<br />
acusações de Nasser; recorda-se de suas palavras. O artigo o marcou, porque ele o<br />
considera um divisor <strong>em</strong> sua carreira: foi a primeira vez que a oposição se preocupou<br />
com ele. Até então, ele era visto no campo político, tanto por seus correligionários<br />
quanto por seus adversários, como um mero agente político. O fato de ter recebi<strong>do</strong><br />
crítica tão contundente, feita por um líder da envergadura de Alfre<strong>do</strong> Nasser e ainda<br />
publicada no jornal e veiculada na TV, indicava que o campo político já notara o capital<br />
político que ele tinha acumula<strong>do</strong>. Iris já não agiria mais s<strong>em</strong> chamar a atenção <strong>do</strong>s<br />
profissionais da política goiana.<br />
Nasser não desperdiçou seu t<strong>em</strong>po na TV, <strong>em</strong> horário nobre na sexta-feira, e<br />
seu espaço no Popular no sába<strong>do</strong> com um político que teria “vôo de pato”. Ele mirou<br />
<strong>em</strong> um adversário com potencial político. De fato, o “moço” revelou sua força política<br />
um ano depois da publicação desse artigo ao vencer a eleição para prefeito de Goiânia,<br />
<strong>em</strong> uma campanha desigual, levan<strong>do</strong>-se <strong>em</strong> conta a cobertura <strong>do</strong>s jornais da época, já