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CUNHA, Cileide Alves. Aval do passado - Pós-Graduação em ...

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por qu<strong>em</strong> ouviu segue o ritmo da fala. Naquela transcrição, a entonação, a ênfase, as<br />

pausas, por dúvidas ou por <strong>em</strong>oção, a ironia, o riso, a repetição perderam-se <strong>em</strong> uma<br />

pontuação que inventou outra conversa. Refiz essa transcrição por inteiro, o que me deu<br />

muito mais trabalho <strong>do</strong> que se tivesse feito tu<strong>do</strong> sozinha. As d<strong>em</strong>ais entrevistas foram<br />

transcritas por mim.<br />

Mesmo assim, não desprezei o áudio no momento de escrever o texto final,<br />

pois, ao ouvi-lo para fazer a transcrição, compreendi por que Tourtier-Bonazzi disse que<br />

“o fato de ler <strong>em</strong> vez de ouvir priva o historia<strong>do</strong>r de muitas contribuições da forma oral”<br />

(2006, p. 239). Como diz o autor, “a voz possui uma carga <strong>em</strong>ocional e um poder de<br />

evocação incomparáveis”, características ainda pouco exploradas nos estu<strong>do</strong>s históricos,<br />

e que pod<strong>em</strong> dar uma grande contribuição às pesquisas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> cont<strong>em</strong>porâneo,<br />

perío<strong>do</strong> fort<strong>em</strong>ente influencia<strong>do</strong> pelo som e pela imag<strong>em</strong>.<br />

Se, como l<strong>em</strong>bra Danièle Voldman (2006. p. 248), a história oral é qualquer<br />

méto<strong>do</strong> que utiliza palavras gravadas, sen<strong>do</strong> a voz dessa história a fonte oral, este<br />

trabalho de pesquisa pode então ser incluí<strong>do</strong> na categoria de história oral. A narrativa de<br />

Iris Rezende ganha o status de “test<strong>em</strong>unho-sujeito”, isto é, uma pessoa que se dá um<br />

papel histórico (2006, p. 259-260). Como tal, ele narra não os acontecimentos <strong>do</strong><br />

passa<strong>do</strong> e, sim, como corretamente afirma Grele (2006, p. 276), o que e como nesse<br />

momento ele l<strong>em</strong>bra ou pensa que foi sua vida nos 50 anos anteriores. Há uma<br />

“conexão” e um “entrelaçamento” de uma pluralidade de m<strong>em</strong>órias (Passerini, 2006, p.<br />

212) no t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que se vive e a partir <strong>do</strong> qual se relatam as experiências <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>.<br />

Ser questiona<strong>do</strong> no presente sobre m<strong>em</strong>órias <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> coloca a fonte diante<br />

de situações absolutamente novas, <strong>em</strong> especial quan<strong>do</strong> ela é cobrada a explicar ou a<br />

analisar acontecimentos passa<strong>do</strong>s. Iris exprimia surpresa, com exclamações <strong>do</strong> tipo<br />

“nunca pensei nisso antes!”, diante de perguntas que o confrontavam com seus próprios<br />

atos. Isso acontece, de acor<strong>do</strong> com Grele, porque nossas entrevistas “obrigam as pessoas<br />

a tornar suas vidas algo novo <strong>do</strong> ponto de vista antropológico” (2006. p. 276).<br />

To<strong>do</strong>s esses fatos são relevantes e foram considera<strong>do</strong>s neste trabalho de<br />

pesquisa ao analisar os relatos de sua fonte, s<strong>em</strong> perder de vista que a pessoa que narra<br />

não fala a verdade, mas a sua verdade; que ela é sincera “<strong>em</strong> virtude ‘da posição <strong>em</strong> que<br />

fala’” (Voldman, 2006, p. 264). Sob esse ponto de vista, Voldman diz que não se pode<br />

desesperar com falsos ou maus test<strong>em</strong>unhos, pois, se há culpa<strong>do</strong>, este é o historia<strong>do</strong>r. A<br />

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