CUNHA, Cileide Alves. Aval do passado - Pós-Graduação em ...
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junto ao grupo, que, por sua vez, lhe abriria espaços para disputar mandatos e ascender<br />
na carreira, tu<strong>do</strong> conforme o planejamento que fez ao procurar um grande parti<strong>do</strong> para<br />
se filiar. Na eleição de 1962, ele trabalhou <strong>em</strong> silêncio para repetir a votação recorde de<br />
1958.<br />
Ao pensar duas vezes <strong>em</strong> revelar a Mauro Borges, a <strong>do</strong>is dias da eleição para<br />
deputa<strong>do</strong>, sua expectativa de ser um <strong>do</strong>s deputa<strong>do</strong>s estaduais mais vota<strong>do</strong>s <strong>do</strong> PSD –<br />
afinal, refletiu, o governa<strong>do</strong>r t<strong>em</strong> sua preferência entre os candidatos e muito poder de<br />
ação –, Iris aderia às “regras <strong>do</strong> jogo”, como to<strong>do</strong> “agente” deve fazer para interagir no<br />
complexo sist<strong>em</strong>a de relações <strong>do</strong> campo político. Uma dessas regras, conhecida <strong>do</strong>s<br />
“inicia<strong>do</strong>s” (Bourdieu), 237 é a sutileza <strong>do</strong> discurso político. A complexidade da<br />
linguag<strong>em</strong> <strong>do</strong>s agentes políticos costuma ser inacessível ao público, porque trata <strong>do</strong>s<br />
conflitos existentes nas relações dentro <strong>do</strong> campo político. A concorrência não se dá<br />
apenas na relação entre os parti<strong>do</strong>s, mas internamente, entre as tendências e correntes<br />
que se abrigam sob o guarda-chuva de uma legenda (1989, p. 178). O silêncio é uma<br />
grande aliada na guerra relacional no campo político, conforme Iris aprendia na prática.<br />
Iris aprimorava sua prática política nessa relação interna no campo político,<br />
mas ele t<strong>em</strong> certeza de que teve mais facilidade que outros políticos para conhecer o<br />
mecanismo interno de funcionamento desse “merca<strong>do</strong>” porque nasceu com vocação<br />
para a política. Acredita que essa aptidão é um <strong>do</strong>m, uma graça divina. Weber (1982, p.<br />
98) afirma que política significa “[...] a participação no poder ou a luta para influir na<br />
distribuição <strong>do</strong> poder, seja entre Esta<strong>do</strong>s ou entre grupos dentro de um Esta<strong>do</strong>”. O autor<br />
considera que a política pode ser uma ocupação subsidiária ou uma vocação. Um<br />
hom<strong>em</strong> pode se dedicar à política apenas ocasionalmente. 238<br />
Há <strong>do</strong>is mo<strong>do</strong>s, segun<strong>do</strong> o autor, de um político fazer da política sua principal<br />
vocação: “viver ‘para’ a política ou viver ‘da’ política” (1982, p. 105, grifo <strong>do</strong> autor).<br />
Compõ<strong>em</strong> o primeiro grupo aqueles que faz<strong>em</strong> da política “a sua vida, num senti<strong>do</strong><br />
interior”. “Desfruta a posse pura e simples, <strong>do</strong> poder que exerce, ou alimenta seu<br />
equilíbrio interior, seu sentimento íntimo, pela consciência de que sua vida t<strong>em</strong> senti<strong>do</strong><br />
a serviço de uma ‘causa’” (1982, p. 105). O político que vive para uma missão também<br />
237 O inicia<strong>do</strong>, segun<strong>do</strong> Bourdieu, é o político que já adquiriu o “corpus de saberes específicos” para ter o<br />
“<strong>do</strong>mínio prático” da lógica interna <strong>do</strong> campo político (1989, p. 169).<br />
238 Weber acredita que, de certa forma, to<strong>do</strong>s somos “políticos ocasionais” quan<strong>do</strong> votamos ou quan<strong>do</strong><br />
participamos de alguma atividade política (1982, p. 103).