CUNHA, Cileide Alves. Aval do passado - Pós-Graduação em ...
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movimentação de Iris Rezende a partir de sua eleição para prefeito, <strong>em</strong> 2004, visou,<br />
entre outros motivos, interferir na construção dessa imag<strong>em</strong> pelas novas gerações de<br />
eleitores. Dois movimentos estimularam seu retorno à cena política: um interno, de<br />
busca da identidade perdida através da reescrita de seu passa<strong>do</strong>, recuperan<strong>do</strong> a m<strong>em</strong>ória<br />
<strong>do</strong>s bons t<strong>em</strong>pos vivi<strong>do</strong>s; e outro externo, para interferir na construção de sua imag<strong>em</strong><br />
pública.<br />
Esse segun<strong>do</strong> movimento, voltan<strong>do</strong> a Feitosa (2002), é alimenta<strong>do</strong> por um<br />
claro sentimento de “vontade de poder”. “Não se biografa <strong>em</strong> vão”, diz Jonaedson<br />
Carino (1999, p. 153). Biografa-se com intenções claras, como “exaltar, criticar,<br />
d<strong>em</strong>olir, descobrir, renegar, apologizar, reabilitar, santificar, dessacralizar”. Para Iris, a<br />
biografia representa reabilitação e, para tanto, ele decide ser pró-ativo: volta às urnas,<br />
vence e reassume a narração de sua carreira.<br />
Le Goff destaca o papel des<strong>em</strong>penha<strong>do</strong> pela m<strong>em</strong>ória coletiva na evolução das<br />
sociedades. Segun<strong>do</strong> ele, “[...] a m<strong>em</strong>ória coletiva faz parte das grandes questões das<br />
sociedades desenvolvidas e das sociedades <strong>em</strong> vias de desenvolvimento, das classes<br />
<strong>do</strong>minantes e das classes <strong>do</strong>minadas, lutan<strong>do</strong>, todas pelo poder ou pela vida, pela<br />
sobrevivência e pela promoção” (2003, p. 469). O que nos interessa nessas observações<br />
de Le Goff a respeito da luta pelo poder, ten<strong>do</strong> como ponto de partida a construção da<br />
m<strong>em</strong>ória coletiva, é sua afirmação de que “a m<strong>em</strong>ória coletiva é não somente uma<br />
conquista é também um objetivo de poder”.<br />
As sociedades s<strong>em</strong> m<strong>em</strong>ória coletiva, objeto de análise <strong>do</strong> autor, sucumb<strong>em</strong>.<br />
Transpon<strong>do</strong> para o indivíduo, que é o que nos interessa neste estu<strong>do</strong>, a ausência de<br />
m<strong>em</strong>ória de uma vida inserida na m<strong>em</strong>ória coletiva pode representar o esquecimento<br />
desse indivíduo pelas sociedades futuras. Cair no esquecimento ou existir a partir da<br />
construção de uma m<strong>em</strong>ória indesejada são ameaças reais ao desejo de poder de um<br />
“herói homérico”.<br />
Se como, diz Le Goff, “a m<strong>em</strong>ória, na qual cresce a história, que por sua vez a<br />
alimenta, procura salvar o passa<strong>do</strong> para servir ao presente e ao futuro” (2003, p. 471),<br />
Iris Rezende utiliza-se de suas l<strong>em</strong>branças <strong>do</strong>s t<strong>em</strong>pos vivi<strong>do</strong>s para salvar seu passa<strong>do</strong><br />
e, conseqüent<strong>em</strong>ente, servir ao seu presente e, principalmente, a seu futuro. Ele luta pelo<br />
poder de escolher a imag<strong>em</strong> de uma carreira política de sucesso e, com isso, apagar a de<br />
derrotas.<br />
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