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Anais de Historia CPTL - 2006.pmd - Campus de Três Lagoas

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A experiência surge espontaneamente no ser social,<br />

mas não surge sem pensamento. Surge porque homens<br />

e mulheres (e não apenas filósofos) são racionais,<br />

e refletem sobre o que acontece a eles e ao seu<br />

mundo. Se tivermos <strong>de</strong> empregar a (difícil) noção <strong>de</strong><br />

que o ser social <strong>de</strong>termina a consciência social, como<br />

iremos supor que isto se dá? Certamente não iremos<br />

supor que o ‘ser’ está aqui, como uma<br />

materialida<strong>de</strong> grosseira da qual toda i<strong>de</strong>alida<strong>de</strong> foi<br />

abstraída, e que a ‘consciência’ (como i<strong>de</strong>alida<strong>de</strong><br />

abstrata) está ali. Pois não po<strong>de</strong>mos conceber nenhuma<br />

forma <strong>de</strong> ser social in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong><br />

seus conceitos e expectativas organizadoras, nem<br />

po<strong>de</strong>ria o ser social reproduzir-se por um único dia<br />

sem pensamento. (1981, p.16)<br />

Dessa forma, foi possível apreen<strong>de</strong>r nos assentamentos estudados<br />

saberes diferenciados comungando o <strong>de</strong>sejo da terra, <strong>de</strong> nela<br />

permanecer, <strong>de</strong> transformar o meio em que se vive, mas ainda <strong>de</strong> preservar.<br />

Isto não quer dizer a negação do espaço <strong>de</strong> lutas, mas a afirmação<br />

<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> alterida<strong>de</strong>s, as quais necessitaram ser<br />

interpretadas para além dos níveis <strong>de</strong> consciência.<br />

E. P. Thompson, na obra relacionada, assinalou a importância<br />

<strong>de</strong> se apreen<strong>de</strong>r a “experiência” para a compreensão <strong>de</strong> que são os<br />

homens e mulheres que a tecem, que fazem a história, tanto pelo<br />

pensamento como pelo ser social. Assim:<br />

[...] as pessoas não experimentam sua própria experiência<br />

apenas como idéias, no âmbito do pensamento<br />

e <strong>de</strong> seus procedimentos, ou (como supõem alguns<br />

praticantes teóricos) como instinto proletário etc.<br />

Elas também experimentam sua experiência como<br />

sentimento e lidam com esses sentimentos na cultura,<br />

como normas, obrigações familiares e <strong>de</strong> parentesco,<br />

e reciprocida<strong>de</strong>s, como valores ou (através <strong>de</strong><br />

formas mais elaboradas) na arte ou nas convicções<br />

religiosas. (1981, p.189)<br />

De forma semelhante ao que Thompson havia observado, as<br />

experiências dos entrevistados a<strong>de</strong>ntraram na pesquisa sem pedir licença<br />

para a constituição <strong>de</strong> uma discussão à parte, já que construídas<br />

no fazer-se das práticas e representações dos sujeitos na terra <strong>de</strong><br />

trabalho e em movimento. Experiências vividas como práticas e representações<br />

referendaram, na pesquisa, o modo <strong>de</strong> vida e os sonhos,<br />

fundamentado tanto no <strong>de</strong>sejo da “terra <strong>de</strong> trabalho” quanto no da “transformação<br />

social”. Percebi, então, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r o<br />

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