Anais de Historia CPTL - 2006.pmd - Campus de Três Lagoas

seu próprio intento, que era o de convencer ao índio a praticar o sacramento
da confissão. Registre-se que essa ingenuidade do índio não
pode ser tratada nos mesmos termos que se trataria a ingenuidade de
um outro europeu na mesma situação, pois na verdade o que ocorre é
uma incompreensão dos signos utilizados pelo padre em sua comunicação.
O índio ao presenciar um certo ritual alheio a sua cultura não o
entende e apropria-se de um significado a principio equivocado, pois lê
o ato do jesuíta baseado no sistema de códigos culturais indígena e
não europeu. É muito provável que situações inversas também tenham
acontecido, embora essas apareçam nas fontes de formas menos
caricaturais, tendo em vista a maioria é de autoria dos jesuítas.
O CASO DO MITO DO SUMÉ,
O SÃO TOMÉ AMERICANO
Agora quero expor um exemplo de circularidade cultural, que
gerou no campo mitológico recriações ou mesmo criações mitológicas:
o mito do Pay Sumé, Tumé: o São Tomé Americano.
Desde os primeiros anos da colonização da América já corria
entre os europeus a informação de que o apóstolo São Tomé teria num
passado distante evangelizado aos índios da região. A notícia mais
antiga que se tem desse fato nos é trazida pela “Nova Gazeta da Terra
do Brasil” documento datado pelos historiadores com sendo no máximo
de 1515. Esse documento não menciona a existência de qualquer
mito indígena, ele diretamente atribui a suposta evangelização a São
Tomé.
Nessa mesma costa ou terra há ainda memória de
São Thomé. Quizeram tambem mostrar aos Portugueses
as pegadas no interior do paiz. Mostram igualmente
a cruz que há terra a dentro. E quando fallam
de São Thomé dizem que ele é o deus pequeno. Pois
há outro deus que é maior[...] (SIC), (SCHULLER, 1911,
p.118).
Posteriormente voltamos a ter notícias da atuação do Santo na
América através das cartas do Pe. Manoel da Nóbrega SJ, datadas de
1549. Ele afirma que “... Dizem elles que S. Thomé, a quem chamam
Zomé passou por aqui...” (NOBREGA, 1988, p.101). Montoya por sua
vez em 1639 afirmou: “... comumente chamavam ‘Pay Zumé’ na Província
do Paraguai e ‘Pay Tumé’ nas do Peru...” (MONTOYA, 1985, p.
86). Nesse caso já fica demonstrado que aparentemente os índios por
si só não teriam se referido em momento algum ao mito como São
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