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Anais de Historia CPTL - 2006.pmd - Campus de Três Lagoas

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da firmeza, e agem <strong>de</strong> longe, do fundo dos tempos questionando sempre<br />

cada vitória dos dominadores” 15 . Ele ainda nos alerta sobre a existência<br />

<strong>de</strong> “um misterioso ponto <strong>de</strong> encontro entre o presente e o passado<br />

on<strong>de</strong> os dominados resistem aos dominadores” 16 . E esse ponto<br />

<strong>de</strong> encontro po<strong>de</strong> ser entendido como o campo <strong>de</strong> luta no qual a cultura<br />

se faz presente.<br />

Será que o interesse e o fascínio que esse personagem “Camisa<br />

<strong>de</strong> Couro” e suas ações <strong>de</strong>spertam até hoje nas pessoas, aliados a<br />

sua reconhecida trajetória no mundo do crime entre meados da década<br />

<strong>de</strong> 1950 e 1960 na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Três <strong>Lagoas</strong> po<strong>de</strong>m ser o elo para<br />

esse ponto <strong>de</strong> encontro entre o presente e o passado a que se refere o<br />

autor? Será que essa complexa relação entre presente e passado percebida<br />

no contexto que envolve “Camisa <strong>de</strong> Couro” não está sendo<br />

captada pela memória, na tentativa <strong>de</strong> evitar que o po<strong>de</strong>r se aproprie<br />

do passado? Não temos respostas para essas indagações, porém,<br />

vamos procurando juntar os fragmentos <strong>de</strong>sse passado que se fazem<br />

presentes na memória e nas falas <strong>de</strong>ssas pessoas na tentativa <strong>de</strong><br />

enten<strong>de</strong>r que para a história nada é perdido e não existe um passado<br />

morto e acabado.<br />

Nesse diálogo com Benjamin, analisamos suas palavras quando<br />

diz que “nunca houve um monumento da cultura que não fosse<br />

também um monumento da barbárie” 17. Neste ponto, fazemos uma<br />

reflexão sobre o risco que a história e a cultura correm ao caírem nas<br />

mãos dos dominantes e dos vencedores. Sendo assim, nesse processo<br />

<strong>de</strong> apropriação que o po<strong>de</strong>r realiza sobre os “<strong>de</strong>spojos” e os<br />

“bens culturais” é que está o perigo da manipulação e do domínio se<br />

transformarem em armas po<strong>de</strong>rosas nas lutas travadas contra os<br />

dominados.<br />

Ao compartilharmos com Benjamin esse pensamento indagamos:<br />

Se, na versão oficial, “Camisa <strong>de</strong> Couro” foi um bandido perigoso,<br />

morto pela polícia numa ação espetacular empreendida com a intenção<br />

<strong>de</strong> proteger a cida<strong>de</strong> e a população da convivência ameaçadora<br />

com este personagem, como se explicam, então, alguns relatos que<br />

mencionam que “Camisa <strong>de</strong> Couro” por um período fez parte do contingente<br />

policial da cida<strong>de</strong> ou do Estado? Por que na fala das pessoas o<br />

que ouvimos com eloqüência não é a gran<strong>de</strong>za do ato policial em coibir<br />

as ações do pistoleiro? Por que é forte a lembrança <strong>de</strong> como ele circulava<br />

tranquilamente entre a socieda<strong>de</strong> três-lagoense? E as muitas insinuações<br />

<strong>de</strong> que ele fora traído? E o reconhecimento <strong>de</strong> sua profissão<br />

(pistoleiro) associada a atos <strong>de</strong> coragem e até <strong>de</strong> bonda<strong>de</strong>? E o incômodo<br />

sentido pelas ações policiais posteriores à sua morte que foram<br />

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