Anais de Historia CPTL - 2006.pmd - Campus de TrÃªs Lagoas

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processo de lutas para a conquista da terra e para nela permanecer, tal como a luta por novos e velhos direitos. Sendo assim, as representações fundamentaram as práticas vividas no campo material e simbólico das lutas camponesas, de modo que os signos a substanciar a mística da terra construíram práticas, tal como foram por elas construídos, explicitando a importância de se analisar o sujeito, tal como o meio em que estava inserido. Nos relatos dos assentados, pude perceber que no relembrar e exposição da memória de lutas no espaço coletivo, desenhava-se o indivíduo forjando histórias a enunciar a trama para a conquista da terra e a permanente luta familiar, no espaço conquistado. Pude perceber que nos assentamentos os camponeses plantavam o milho, o feijão e a mandioca, cultura secular do “sertão desconhecido”, mas a cultura secular não lhes impossibilitava de representarem para si e para os seus familiares, o desejo da produção a partir do desenvolvimento econômico. Dessa maneira, desenharam-se sonhos e mundos que, para além da cultura do atraso, puderam evidenciar o desejo de construção de uma vida fundamentada no desejo de direitos similares ao meio urbano, ou mesmo de contestação a esses direitos, na medida em que eles não se realizavam, na maior parte das vezes, de forma efetiva. Pude apreender valores constituídos de forma ambígua, por vezes contraditória, mas extremamente viva, a demonstrar, para além da visão da “organização institucionalizada”, gente de carne, osso, sentimentos. Encerro este breve texto com uma citação de Thompson que evidencia a dimensão dos valores da gente comum, fazendo lembrar a experiência de trabalho pelos campos do Pontal e os sujeitos nela envoltos: [...] os valores, tanto quanto as necessidades materiais, serão sempre um terreno de contradição, de luta entre valores e visões-de-vida alternativos. Se dizemos que os valores são aprendidos na experiência vivida e estão sujeitos às suas determinações, não precisamos por isso, render-nos a um relativismo moral ou cultural. Nem precisamos supor alguma barreira intransponível entre valor e razão. Homens e mulheres discutem sobre valores, escolhem entre valores, e em sua escolha alegam evidências racionais e interrogam seus próprios valores por meios racionais. Isso equivale a dizer que essas pessoas são tão determinadas (e não mais) em seus valores quanto o são em suas idéias e ações, são tão “sujei- 148
tos” (e não mais) de sua própria consciência afetiva e moral quanto de sua história geral. Conflitos de valor, e escolhas de valor, ocorrem sempre. Quando uma pessoa se junta ou atravessa um piquete grevista, está fazendo uma escolha de valores, mesmo que os termos da escolha e parte daquilo que a pessoa escolhe sejam social e culturalmente determinados.(1981, p.194) NOTAS 1 Este texto resulta de parte da Introdução de minha tese de Doutorado (BORGES, 2004). 2 Profa. Dra. do Curso de História de Três Lagoas, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. 3 As considerações tecidas por Pollak são importantes para se pensar o papel da memória e a expressão no vivido e o transmitido: “[...] há uma permanente interação entre o vivido e o aprendido, o vivido e o transmitido. E essas constatações se aplicam a toda forma de memória, individual e coletiva, familiar, nacional e de pequenos grupos”.(1989, p.09) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARRUDA, Â. Negociando a diferença. In: ARRUDA, Â. (Org.). Representando a alteridade . Petrópolis, RJ: Vozes, 1998. (Col. Psicologia Geral) BORGES, M. C. De pobres da terra ao Movimento Sem Terra: práticas e representações camponesas no Pontal do Paranapanema-SP. 2004. Tese (Doutorado em História). Faculdade de Letras e Ciências Humanas. Universidade Estadual Paulista, Assis. CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Igrejas e Problemas da terra. São Paulo: Edições Paulinas, 1980. GOMES, R.; MENDONÇA, E. A. ; PONTES, M. L. As representações sociais e a experiência da doença. Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro, n.18 (5), Set/Out. de 2002. GUARESCHI, P. e JOVCHELOVITCH, S. (Org.). Textos em Representações Sociais. 4 a ed., Petrópolis, RJ: Vozes, 1998. HEREDIA, B. M. A. de. A morada da vida: trabalho familiar de pequenos produtores do Nordeste do Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. (Série Estudos sobre o Nordeste; v.07) JOVCHELOVITCH, S. Vivendo a vida com os outros: intersubjetividade, espaço público e representações sociais. In: GUARESCHI, P. e 149
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