Anais de Historia CPTL - 2006.pmd - Campus de Três Lagoas

na Religião afro-brasileira status de prestigio, estamos nos remetendo
ao fato de que, com tais práticas, o negro de uma certa forma compensa
a sua vida cotidiana medíocre. Alias, Camargo (1961) afirma que, no
intimo dos fieis que praticam a Umbanda, “a participação no culto, na
doutrina e na ação, efetivada pelos mediúnicos, constitui motivo de
satisfação íntima e de incremento do status” (p. 123). Para Bastide:
(...) pode parecer a priori que a religião não exerça
grande função. A simples passagem do regime servil
para a plebe urbana era, no fundo, uma ascensão, e
numa sociedade onde os brancos dominavam, subir
era forçosamente assimilar-se a eles, perder, sob a
cor, tudo o que os antepassados tinham trazido consigo
da África bárbara. (BASTIDE, 1971,p.141)
Na roda da Umbanda, esses “medíocres” sentem-se mais próximos
do sagrado, mesmo os fieis participantes tem um contato relativamente
próximo deste sagrado através dos médiuns. Ressaltamos também
a importância da mulher, que enquanto nas outras religiões cristãs
tem papel apagado e secundário, na Umbanda encontra espaço e
prestigio, sendo atuante nas musicas, nos ritos, nas danças:
Realmente, se pensarmos na auto estima, na seriedade,
na consideração do grupo que as religiões
mediúnicas facultam, pode-se perceber como elas
compensam, para muitos, a mediocridade da vida e
o apagado da existência. Submissos funcionários,
humildes empregadas domesticas, transformam-se,
subitamente, em veículos de espíritos iluminados,
portadores de mensagens sublimes, ou se sacodem
como “cavalos” árdegos de sábios “pretos velhos” e
poderosos caboclos. Alem do mais, a hierarquia da
sessão e do terreiro, que reflete o microcosmo religioso
e as ligações com o alem, é bem diversa da estrutura
de classes da sociedade global e serve de
correção para magoas e frustrações. (CAMARGO,
1961, p. 124-5).
Cresce a organização religiosa do negro urbano paulista, servindo
como apoio de uma população marginalizada, vinda em grande parte
do campo para a metrópole, sem condições de ajustar-se aos padrões
dessa sociedade.
Juntamente com o crescimento das tendas de Umbanda, surge,
em contrapartida, uma política oficial no sentido de contê-la. Mesmo
com a agressão advinda principalmente da Igreja Católica, o número
de umbandistas aumentou, preferivelmente na periferia.
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