Anais de Historia CPTL - 2006.pmd - Campus de Três Lagoas
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Quando propusemos o título “Camisa <strong>de</strong> Couro – bandido ou<br />
mocinho no imaginário da população <strong>de</strong> Três <strong>Lagoas</strong>?” a preocupação<br />
foi evi<strong>de</strong>nciar essa contradição que nos incomoda e impulsiona a buscar<br />
respostas. Talvez essa questão se torne um pouco mais compreensível<br />
se nos atentarmos ao “perigo” que Stuart Hall percebe “quando<br />
ten<strong>de</strong>mos a pensar as formas culturais como algo inteiro e coerente,<br />
enquanto que elas são profundamente contraditórias, jogam com as<br />
contradições, em especial quando funcionam no domínio do popular” 9 .<br />
Nesse caminhar nos direcionamos a ampliar e a modificar a<br />
noção <strong>de</strong> cultura popular, consi<strong>de</strong>rando-a não algo à parte, em oposição<br />
a uma cultura dominante, mas o espaço da diferença e ambas<br />
constitutivas da mesma cultura que é <strong>de</strong> todos. Sendo assim, compreen<strong>de</strong>mos<br />
que toda essa movimentação se faz numa constante tensão.<br />
No dizer <strong>de</strong> Stuart Hall, “a cultura popular é um dos locais on<strong>de</strong><br />
a luta a favor ou contra a cultura dos po<strong>de</strong>rosos é engajada; é também<br />
o prêmio a ser conquistado ou perdido nessa luta. É a arena do consentimento<br />
e da resistência” 10 .<br />
Transformar “bandidos” em “heróis” ou o inverso, “heróis” em<br />
“bandidos” envolve um complexo processo <strong>de</strong> transformação <strong>de</strong> toda<br />
uma socieda<strong>de</strong>. Deste modo, cabe indagar: Será uma forma inconsciente<br />
<strong>de</strong> se lutar pela cultura <strong>de</strong> um povo que se sente ameaçado <strong>de</strong><br />
per<strong>de</strong>r suas heranças culturais? Ainda não temos resposta para essa<br />
pergunta, porém Hall, quando diz que “a cultura popular é o terreno<br />
sobre o qual essas transformações são operadas,” 11 está nos fornecendo<br />
uma pista da dinâmica das relações entre os sujeitos que vivem<br />
essas transformações e como resistem ou se submetem a elas. As<br />
inquietações do historiador não são as transformações e localizar on<strong>de</strong><br />
o homem, o ser humano, se insere nessas transformações?<br />
Num segundo momento, <strong>de</strong>vemos refletir sobre a complexida<strong>de</strong><br />
que o conceito <strong>de</strong> “cultura” apresenta e como i<strong>de</strong>ntificar o objeto da<br />
pesquisa com essa complexida<strong>de</strong>.<br />
Ao dialogar com Raymond Williams apreendo “cultura como todo<br />
um modo <strong>de</strong> vida, portanto, um local <strong>de</strong> interesses convergentes” 12 .<br />
Nesta perspectiva, nos propomos a pensar cultura(s) como todo o modo<br />
<strong>de</strong> vida e modo <strong>de</strong> luta, contudo, pertencente a todos. Desta forma,<br />
procuramos compreen<strong>de</strong>r “cultura” como um campo fértil para i<strong>de</strong>ntificar<br />
diferenças e <strong>de</strong>scobrir tendências que questionam a or<strong>de</strong>m.<br />
Se há mais <strong>de</strong> quarenta anos, “Camisa <strong>de</strong> Couro” faz parte da<br />
história e da memória da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Três <strong>Lagoas</strong>; se jovens, velhos,<br />
ricos ou pobres já ouviram seu nome ou conhecem alguma <strong>de</strong> suas<br />
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