Anais de Historia CPTL - 2006.pmd - Campus de TrÃªs Lagoas

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Desta forma, estes são alguns aspectos carnavalescos da sociedade mineira do século XVIII, uma sociedade marcada pelo caráter de inversão e reforço, confrontando-se diretamente com um espaço de neutralização. Através da minimização das diferenças sociais vista pelas festividades religiosas, na construção de uma segunda vida não-oficial dessa população fora de suas casas, nas ruas, é que se dá a batalha eminente por status. Ao se esbanjar alegria e ostentar uma riqueza que não os pertence, há um riso carnavalesco orientado pela parodização de uma sociedade desigual, fundamentada na relação de dominação entre senhores e escravos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Hoje se sabe com clareza que a idéia do “homem cordial”, não é um simples equívoco, nem corresponde à realidade das coisas. De fato, a dissociação que existe em nossa cultura entre o mundo das relações pessoais, baseada na qualidade das pessoas, e o mundo selvagem da “rua”, faz com que qualquer conflito aberto e manifesto seja percebido pelos participantes como algo extremamente ameaçador. A conseqüência é que ser “agressivo” é um dos defeitos sociais mais graves, e o “tudo bem”, “numa boa”, pronunciados a cada instante, o seu oposto. Mas como a realidade social é de conflitos e contradições, estes, quando se manifestam, tendem a ser de fato violentos e irreparáveis, quando não camuflados e sistematicamente negados, gerando assim a má fé e o cinismo institucionalizados. Pode-se considerar que a má fé e o cinismo foram a forma com que a população mineira desprovida dos privilégios do ouro encontrou para manifestar aspectos carnavalescos em meio a todo um sistema engendrado pela sistematização de hierarquias sociais. O caráter invertido, reforçado e neutralizador das diferenças sociais através das festividades religiosas nada mais é do que meios de se incluir num sistema em que a maioria era excluído. Desta forma, nota-se que a história colonial da América Portuguesa, não só o contexto aqui estudado, mas todo o processo de colonização, revela que o sistema colonial que fora imposto dificulta, atualmente, as relações humanas e o sistema capitalista, num sentido anglo-saxão, já que encontramos em nosso meio, no passado, raízes sociológicas e culturais imunes, ou quase, aos eventos da história. 226
NOTAS 1 O Enfoque dado a este trabalho está no fato de que o tema Carnavalização se identifica com a pesquisa por mim realizada no programa de Iniciação Científica Voluntária (UFMS-CPTL), intitulada Da Censura ou Riso: A Carnavalização da Produção Musical do Estado Novo (1937-1945), sob a orientação da Profa Dra. Norma Marinovic Doro. 2 Acadêmica do 2º ano de História, bolsista de Iniciação Científica, UFMS- CPTL. 3 Aproveito-me da contribuição notável de Laura de Mello e Souza que em seu livro Desclassificados do ouro: a pobreza mineira do século XVIII dedica um capítulo inteiro para a abordagem da contradição dialética entre a riqueza das minas e a ostentação do luxo vista através das festividades religiosas. 4 Termo utilizado por MELLO, Suzy de. Barroco Mineiro. São Paulo: Brasiliense, 1985. 5 Idem. 6 Mikhail Bakhtin (1895-1975) é um dos mais importantes teóricos da literatura contemporânea. Sua obra, traduzida para diversas línguas, alcançou grande repercussão no Ocidente, abrindo novas perspectivas aos estudos literários. Entre seus trabalhos mais importantes destacam-se Marxismo e Filosofia de Linguagem (1965), Problemas da Poética de Dostoievski (1929), A Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento: O Contexto de François Rabelais (1965) e Questões de Literatura e de Estética: a Teoria do Romance. 7 Refiro-me à obra Carnavais, malandros e heróis - Para uma sociologia do dilema brasileiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1978. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil pelas minas de ouro. São Paulo, Obelisco, 1964. BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na idade média e no renascimento: contexto de François Rabelais. São Paulo: Hucitec, 1996. CUNHA, Maria Clementina Pereira (Org.). Carnavais e outras f(r)estas. Campinas, SP: Editora da Unicamp, CECULT, 2002. DA MATTA, Roberto. Carnavais, malandros e heróis - Para uma sociologia do dilema brasileiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1978. HOLLANDA, Sérgio Buarque de. Monções. 3ª ed. ampliada. São Paulo: Brasiliense, 1990. MELLO, Suzy de. Barroco Mineiro. São Paulo: Brasiliense, 1985. 227
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