Anais de Historia CPTL - 2006.pmd - Campus de Três Lagoas
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A CULTURA<br />
COMO MODO DE RESISTÊNCIA<br />
De acordo com Moura (1992), o surgimento da religião afro-brasileira<br />
po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finido como um modo <strong>de</strong> resistência, um modo <strong>de</strong><br />
resistir contra o <strong>de</strong>sfacelamento <strong>de</strong> sua cultura que lhe era legada.<br />
De acordo com Moura:<br />
(...) os grupos negros que se organizaram como específicos,<br />
na socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> capitalismo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />
que a substituiu, também aproveitaram os valores<br />
cultuais afro-brasileiros como instrumento <strong>de</strong> resistência.<br />
(MOURA, 1992, p.38)<br />
O negro procurou inicialmente se reencontrar étnica e culturalmente,<br />
mas, ao mesmo tempo, por estar engastado em uma socieda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> classes opressora usou suas unida<strong>de</strong>s religiosas para se preservar<br />
e se recompor socialmente. A Igreja católica sempre esteve presente<br />
nos projetos metropolitanos para a colônia. O advento do Império<br />
não mudaria essa realida<strong>de</strong>, e, em 1824, a constituição apresenta a<br />
Igreja católica como religião oficial do país.<br />
Para obter espaço o negro precisaria se organizar. E foi na religião,<br />
principalmente, que conseguiu vislumbrar o que procurava. Nesse<br />
sentido, nos <strong>de</strong>screve Moura:<br />
O negro brasileiro foi sempre um gran<strong>de</strong> organizador.<br />
Durante o período do qual perdurou o regime<br />
escravista, e, posteriormente, quando se iniciou após<br />
a abolição o seu processo <strong>de</strong> marginalização, ele se<br />
manteve organizado, com organizações intermitentes,<br />
frágeis e um tanto <strong>de</strong>sarticuladas, mas sempre<br />
constantes.(MOURA, 1983:47)<br />
Essa forma “organizacional” do negro tinha função social <strong>de</strong> resistência,<br />
porém, segundo Moura (1983), não perdurou muito tempo<br />
na “metrópole do café”. A macumba paulista ao pouco se <strong>de</strong>sagregou,<br />
per<strong>de</strong>u seu sentido <strong>de</strong> organização coletiva e passou a ser exercida<br />
individualmente.<br />
De acordo com Basti<strong>de</strong> (1971), esse <strong>de</strong>saparecimento dos centros<br />
<strong>de</strong> macumba em São Paulo <strong>de</strong>u-se <strong>de</strong>vido às perseguições policiais.<br />
Mas ressalta que, a macumba não <strong>de</strong>sapareceu por completo, e<br />
sim, passou da forma coletiva para a individual, ao mesmo tempo em<br />
que se transformava <strong>de</strong> religião para magia. “O macumbeiro, isolado,<br />
sinistro, temido como um formidável feiticeiro substitui, hoje, a macumba<br />
organizada”.(Basti<strong>de</strong>, 1971).