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Anais de Historia CPTL - 2006.pmd - Campus de Três Lagoas

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mas que não se limita a ser negativo ou <strong>de</strong>strutivo. A relativização da<br />

verda<strong>de</strong> e do po<strong>de</strong>r dominante constitui um dos sentidos profundos<br />

do riso carnavalesco nas suas múltiplas manifestações. Ao ridicularizar<br />

tudo o que se arroga <strong>de</strong> uma condição imutável, transcen<strong>de</strong>nte,<br />

<strong>de</strong>finitiva, as festas populares celebram a mudança e a renovação do<br />

mundo.<br />

A carnavalização, segundo Bakhtin (1996, p. 22), po<strong>de</strong> ser um<br />

<strong>de</strong>svio e também uma inversão dos costumes consagrados, como fez<br />

a geração hippie, que sobrepôs o sacro e o profano, o velho e o novo,<br />

sem aten<strong>de</strong>r a certas normas <strong>de</strong> interdição social. A carnavalização é<br />

<strong>de</strong> alguma maneira o mundo às avessas, através <strong>de</strong> uma leitura<br />

paródica, como já foi dito.<br />

A festa, na concepção bakhtiniana po<strong>de</strong> ser compreendida como<br />

a subversão do discurso oficial, sempre conectadas ao seu tempo natural,<br />

biológico e histórico. São as pessoas humil<strong>de</strong>s que ocupam este<br />

espaço e tempo <strong>de</strong>stinado. Assim, há uma inversão, nas palavras do<br />

autor: “[...] a construção <strong>de</strong> um segundo mundo, uma segunda vida<br />

não-oficial [...]” (1996, p. 05).<br />

As festivida<strong>de</strong>s (qualquer que seja o tipo) são uma<br />

forma primordial, marcante, da civilização humana.<br />

Não é preciso consi<strong>de</strong>rá-las nem explicá-las como<br />

um produto das condições e finalida<strong>de</strong>s práticas do<br />

trabalho coletivo nem, interpretação mais vulgar ainda,<br />

da necessida<strong>de</strong> biológica (fisiológica) <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso<br />

periódico. As festivida<strong>de</strong>s tiveram sempre um conteúdo<br />

essencial, um sentido profundo, exprimiram<br />

sempre uma concepção <strong>de</strong> mundo. Os “exercícios”<br />

<strong>de</strong> regulamentação e aperfeiçoamento do processo<br />

do trabalho coletivo, o “jogo do trabalho”, o <strong>de</strong>scanso<br />

ou a trégua no trabalho nunca chegaram a ser verda<strong>de</strong>iramente<br />

festas. Para que o sejam, é preciso um<br />

elemento a mais, vindo <strong>de</strong> uma outra esfera da vida<br />

corrente, a do espírito e das idéias. A sua sanção<br />

<strong>de</strong>ve emanar não do mundo dos meios e condições<br />

indispensáveis, mas daquele dos fins superiores da<br />

existência humana, isto é, do mundo dos i<strong>de</strong>ais. Sem<br />

isso, não po<strong>de</strong> existir nenhum clima <strong>de</strong> festa<br />

(BAKHTIN, 2004, p. 07-08).<br />

Baseando-se nessa breve análise do conceito <strong>de</strong> carnavalização<br />

e a teoria carnavalesca proposta por Bakhtin, torna-se necessário<br />

associá-los à socieda<strong>de</strong> mineira do século XVIII, visto o caráter <strong>de</strong><br />

inversão, reforço e <strong>de</strong> neutralização das festivida<strong>de</strong>s religiosas, assinaladas<br />

por Souza.<br />

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