Anais de Historia CPTL - 2006.pmd - Campus de Três Lagoas
Anais de Historia CPTL - 2006.pmd - Campus de Três Lagoas
Anais de Historia CPTL - 2006.pmd - Campus de Três Lagoas
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
maneira <strong>de</strong> comer, <strong>de</strong> vestir, <strong>de</strong> morar, para os diversos estratos,<br />
nunca é indiferente, ou seja, “[...] contrastes e disparida<strong>de</strong>s nem todos<br />
superficiais” (1995, p. 17).<br />
Todo estudo histórico, diz o historiador Emmanuel Le Roy<br />
Ladurie, <strong>de</strong>ve ou <strong>de</strong>veria começar por uma crítica das fontes. Este<br />
artigo, <strong>de</strong> maneira breve, não romperá essa regra. Em primeiro lugar, é<br />
indispensável tecer alguns comentários acerca das fontes <strong>de</strong> que trataremos<br />
nas páginas seguintes <strong>de</strong>ste artigo como os documentos básicos<br />
para a escrita <strong>de</strong> uma história da vida cotidiana na vila do Itapura<br />
entre 1858 e 1872.<br />
Nestes recortes o que observei foram as “fatias <strong>de</strong> vida” que,<br />
pelo corpus documental que acessei, po<strong>de</strong>ria consi<strong>de</strong>rá-las insuficiente;<br />
apesar disso trazem uma vastidão <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhes que mesmo assim<br />
po<strong>de</strong>m ser reconstituídas, uma vez que já sofreram recortes por seus<br />
respectivos autores. Dois trabalhos foram fundamentais para a empreitada<br />
realizada, pelo menos, até aqui.<br />
Os informantes são os historiadores Fausto Ribeiro <strong>de</strong> Barros e<br />
Maria Apparecida Silva em cujos trabalhos me baseei para abordar<br />
uma parte apenas da história da vila do Itapura pelo viés do cotidiano.<br />
Utilizei-me <strong>de</strong> Barros, nos seus notáveis “Acontecimentos Diversos”,<br />
<strong>de</strong> on<strong>de</strong> aproveitei várias informações, especialmente, recortes <strong>de</strong> “<strong>de</strong>poimentos<br />
registrados pela oficialida<strong>de</strong>” (1957, p. 294-299).<br />
Já em sua tese <strong>de</strong> doutorado apresentada na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
São Paulo, Silva apresenta uma ênfase dada à organização social do<br />
Itapura em que trata com bastante evidência sobre a questão dos<br />
“africanos livres ou escravos da nação” no período que compreen<strong>de</strong>rá,<br />
<strong>de</strong> acordo com outras comparações documentais, à construção<br />
da vila militar e do estabelecimento naval (1972, p. 77-112; cf. Barros,<br />
1957, p. 281-312; Scorrar, 1930, p. 6). Seguindo estas pistas,<br />
aliadas às outras, e inclusive a existência <strong>de</strong> patrimônio histórico in<br />
loco e sítios arqueológicos que evi<strong>de</strong>nciam a vida material <strong>de</strong>stes<br />
“homens <strong>de</strong> civilização” constata-se contun<strong>de</strong>ntemente semelhança<br />
à persistência <strong>de</strong> que Brau<strong>de</strong>l chama por longa duração da história<br />
“insistida nesta lentidão, nesta inércia [...] cheia <strong>de</strong> fatos miúdos [...]<br />
que atravessam a espessura <strong>de</strong> tempos silenciosos e duram” (1995,<br />
p. 16; grifo do autor).<br />
A intimida<strong>de</strong> geográfica, por exemplo, entre a cida<strong>de</strong> e o rio, isto<br />
é, Itapura e o Tietê mostra que esta longa duração da história permanece,<br />
ainda que lentamente, porém, logo se <strong>de</strong>teriora. Até hoje navega-se<br />
pelo Tietê, só que agora não existem mais os saltos e<br />
86