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Anais de Historia CPTL - 2006.pmd - Campus de Três Lagoas

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Apesar disso, trabalho com a idéia <strong>de</strong> duas 3 culturas diferentes<br />

para índios e europeus, num âmbito macro, tendo em vista que as<br />

duas matrizes culturais estiveram quase que completamente isoladas<br />

no gran<strong>de</strong> período prece<strong>de</strong>nte. Assim sendo, não me parece errado<br />

adotar um conceito equivalente ao <strong>de</strong> dicotomização cultural empregado<br />

por Carlo Ginzburg em sua obra “O Queijo e os Vermes” (1987) na<br />

qual trata a “cultura popular” e a “a cultura erudita ou <strong>de</strong> elite” como<br />

culturas diferentes entre si, mas que postas em contatos efetivaram<br />

sempre inúmeras trocas e re-significações. Teríamos, portanto, especialmente<br />

nesse período cultural europeu e eu estendo isso para a<br />

América colonial, a “circularida<strong>de</strong> cultural” ou seja “... temos, por um<br />

lado, dicotomia cultural, mas por outro, circularida<strong>de</strong>, influxo recíproco<br />

entre cultura subalterna e cultura hegemônica, particularmente intenso<br />

na primeira meta<strong>de</strong> do século XVI”.(GINZBURG, 1987, p. 21). O<br />

conceito <strong>de</strong> “circularida<strong>de</strong> cultural” já aparecia implícito na obra <strong>de</strong><br />

Bakhtin (1999), mas somente foi explicitado por Ginzburg (VAINFAS,<br />

1997).<br />

Cabe-me esclarecer dois pontos sobre o emprego <strong>de</strong>sse conceito.<br />

Em primeiro lugar admito a valida<strong>de</strong> da dicotomização cultural<br />

estritamente para o momento colonial da história da América, prepon<strong>de</strong>rantemente<br />

nos séculos XVI e XVII. Sendo que para períodos posteriores<br />

há uma outra discussão que ten<strong>de</strong> a negar a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

dicotomização cultural, especialmente <strong>de</strong>vido à ampliação quase que<br />

mundial <strong>de</strong> contatos entre povos, nessa vertente, por exemplo, seguem<br />

as teorizações <strong>de</strong> Roger Chartier. Em segundo lugar esclareço<br />

que embora Ginzburg utilize os termos “cultura subalterna” versos “cultura<br />

hegemônica” não me aproprio <strong>de</strong>les. Diante das contribuições da<br />

antropologia e da etnoistória, penso simplesmente nas culturas como<br />

diferentes, nem melhores e nem piores, apenas diferentes. (CAVAL-<br />

CANTE, 2006 a). Essa idéia foi proposta inicialmente por Fraz Boas<br />

com o paradigma do particularismo histórico, que conferiu historicida<strong>de</strong>s<br />

singulares para cada cultura, quebrando o estigma dicotômico <strong>de</strong> melhor<br />

e pior cultura. (TRIGGER, 1982, p. 28). Entretanto cabe ressaltar<br />

que havia interesse <strong>de</strong>liberado por parte dos europeus <strong>de</strong> impor a<br />

hegemonia <strong>de</strong> sua cultura sobre a dos índios, que eram vistos como<br />

selvagens, bárbaros, sem lei, sem fé e sem rei, ou seja, praticamente<br />

sem cultura. Essa tentativa <strong>de</strong> imposição cultural nem sempre teve os<br />

êxitos pretendidos, tendo inclusive, muitas vezes, efeitos contrários,<br />

ou seja, a incorporação <strong>de</strong> elementos indígenas na cultura européia.<br />

A título <strong>de</strong> exemplo <strong>de</strong>sses movimentos <strong>de</strong> apropriações culturais<br />

po<strong>de</strong>mos citar diversas ocorrências constatadas na obra “Con-<br />

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