Anais de Historia CPTL - 2006.pmd - Campus de Três Lagoas
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mens que buscam o ouro daqueles que usufruem<br />
seu produto. A festa tem, assim, uma enorme virtu<strong>de</strong><br />
congraçadora, orientando a socieda<strong>de</strong> para o<br />
evento e a fazendo esquecer da sua faina cotidiana;<br />
é o momento do primado do extraordinário – o<br />
sobrenatural, o mitológico, o ouro – sobre a rotina<br />
(SOUZA, 2004, p. 37).<br />
Por outro lado, na festa do Áureo Trono Episcopal, temos a<br />
socieda<strong>de</strong> mineira como protagonista, já que, enquanto se <strong>de</strong>slumbrava<br />
o luxo através do requinte das casas e edificações, o ouro, por sua<br />
vez, escasseava.<br />
Dessa forma, as duas festas barrocas contextualizam o período<br />
aurífero das Minas, nas quais as suas principais características elevam<br />
ao luxo e à ostentação ainda que haja a exteriorização da fé,<br />
evi<strong>de</strong>nciada num caráter lúdico 5 , em períodos marcados pelo apogeu e<br />
falência das minas.<br />
Souza, por sua vez, faz uma leitura das duas festas <strong>de</strong> forma<br />
que se possa estabelecer uma relação <strong>de</strong> inversão e reforço, além <strong>de</strong><br />
um espaço <strong>de</strong> neutralização <strong>de</strong>ntro da própria socieda<strong>de</strong> mineira.<br />
Endossando-se a idéia <strong>de</strong> que a festa funciona como<br />
mecanismo <strong>de</strong> reforço, <strong>de</strong> inversão e <strong>de</strong> neutralização,<br />
teríamos no Áureo Trono a ritualização <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong><br />
rica e opulenta – reforço – que procura, através<br />
da festa, criar um largo espaço comum <strong>de</strong> riqueza –<br />
riqueza que é <strong>de</strong> poucos, mas que o espetáculo luxuoso<br />
procura apresentar como sendo <strong>de</strong> muitos, <strong>de</strong><br />
todos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os nobres senhores do Senado até o<br />
mulatinho e o gentio da terra. O verda<strong>de</strong>iro caráter da<br />
socieda<strong>de</strong> é, aqui, invertido: a riqueza já começava a<br />
sumir, mas parece como pródiga; ela era <strong>de</strong> poucos,<br />
e aparece como <strong>de</strong> todos. Por fim, a festa cria uma<br />
zona (fictícia) <strong>de</strong> convivência, proporcionando a ilusão<br />
(barroca) <strong>de</strong> que a socieda<strong>de</strong> é rica e igualitária:<br />
está criado o espaço <strong>de</strong> neutralização dos conflitos e<br />
diferenças [...] A mensagem social da riqueza e opulência<br />
para todos ganharia, com a festa, enorme clareza<br />
e força persuasória. Mas a mensagem viria como<br />
que cifrada: o barroco se utiliza da ilusão e do paradoxo,<br />
e, assim, o luxo era a ostentação pura, o fausto<br />
era falso, a riqueza começava a ser pobreza e o apogeu,<br />
<strong>de</strong>cadência (SOUZA, 2004, p. 40).<br />
Através da análise <strong>de</strong>ssas festas, po<strong>de</strong>-se perceber a inversão<br />
<strong>de</strong> valores e ao mesmo tempo do reforço dos mesmos, uma vez que o<br />
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