07.11.2014 Views

Anais de Historia CPTL - 2006.pmd - Campus de Três Lagoas

Anais de Historia CPTL - 2006.pmd - Campus de Três Lagoas

Anais de Historia CPTL - 2006.pmd - Campus de Três Lagoas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

A nova incursão crítica <strong>de</strong> Antonio Candido, incluída na reedição<br />

organizada por Sérgio Me<strong>de</strong>iros, intitulada “A sensibilida<strong>de</strong> e o bom<br />

senso do Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Taunay”, discorre sobre a combinação <strong>de</strong> “senso<br />

prático e refinamento estilístico” (2000: 95) que fazem parte do estilo<br />

do escritor, além <strong>de</strong> problematizar a questão da escrita das memórias<br />

em Taunay. Para Candido, o que há em Ierecê a Guaná é menos o<br />

aprofundamento da memória como incursão criadora que o “fruto das<br />

impressões <strong>de</strong> mocida<strong>de</strong>, e da lembrança em que as conservou” (2000:<br />

97). No entanto, o capítulo crítico <strong>de</strong> Antonio Candido apresenta um<br />

panorama das outras obras do autor, reduzindo o espaço para a reflexão<br />

sobre o conto republicado.<br />

A crítica seguinte da reedição <strong>de</strong> Ierecê a Guaná é escrita pelo<br />

editor e intitula-se “As vozes do Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Taunay”. Na reflexão <strong>de</strong><br />

Me<strong>de</strong>iros entra em jogo informações biográficas, ou <strong>de</strong>senvolvidas a<br />

partir do eixo do autor, que ten<strong>de</strong>m a aproximar o enredo do conto ao<br />

material divulgado pelo próprio Taunay nas Memórias em que admite<br />

a aventura amorosa com Antônia, uma índia chané, cuja posse comprou<br />

ao pai. As relações, apenas apontadas, entre arte e vida não<br />

parecem esgotar a questão, mas suscitar ainda mais a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> novas leituras críticas centradas na relação especular entre os<br />

dois Taunays (o jovem e o velho) e Alberto Monteiro, personagem<br />

principal da obra.<br />

Para a crítica Lúcia Sá em “Índia romântica. Brancos realistas”,<br />

capítulo subsequente, a personagem Ierecê faz parte <strong>de</strong> um<br />

universo triste <strong>de</strong>senrolado na literatura brasileira do Romantismo:<br />

“Atalo, Lindoya, e, claro, Iracema”(2000:133). Na tentativa <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r<br />

a uma questão inicial: “O que levaria Taunay à arriscada tentativa<br />

<strong>de</strong> re-escrever, em tão singelo conto, a obra consagrada <strong>de</strong> Alencar?”<br />

(2000:133), Lúcia Sá investiga questões relativas aos personagens e<br />

ao enredo, mas acaba por retornar ás Memórias, com as <strong>de</strong>vidas<br />

ressalvas:<br />

Não se trata, evi<strong>de</strong>ntemente, <strong>de</strong> tomarmos as Memórias<br />

como verda<strong>de</strong> biográfica contra a qual se <strong>de</strong>ve<br />

contrastar o conto, mesmo porque elas foram escritas<br />

anos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ‘Ierecê’.<br />

A comparação entre os dois textos ressalva o processo<br />

<strong>de</strong> invenção da heroína romântica em ‘Ierecê’, ao<br />

mesmo tempo que aponta para a criação da mulher<br />

realista das Memórias ajuda-nos a compreen<strong>de</strong>r<br />

‘Ierecê’ como um texto <strong>de</strong> transição, situado no entrelugar<br />

dos discursos romântico e realista.<br />

44

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!