Anais de Historia CPTL - 2006.pmd - Campus de Três Lagoas
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Sua raça <strong>de</strong> gente está aos poucos sendo exterminada.<br />
Poucos exemplares humanos restam <strong>de</strong>ssa espécie<br />
que, não fosse o sonso perigo da África, seria<br />
povo alastrado. Fora doença, infectado hálito <strong>de</strong><br />
águas, comida <strong>de</strong>ficiente e feras rondantes, o gran<strong>de</strong><br />
risco para os escassos likoualas está nos selvagens<br />
bantos /.../ Os bantos os caçam em re<strong>de</strong>s, como fazem<br />
com os macacos 10 .<br />
Tal exemplo ficcional, mesmo que não tivesse nada <strong>de</strong> veracida<strong>de</strong>,<br />
o que não é o caso, uma vez que Clarice tomou conhecimento<br />
do assunto lendo um jornal, serve perfeitamente para pensarmos a<br />
condição sub-humana em que se encontra os índios brasileiros. Cada<br />
vez mais, eles estão sendo obrigados a invadir as zonas <strong>de</strong> civilização<br />
do branco como forma única e exclusiva <strong>de</strong> sobrevivência. Os<br />
índios, que hoje ocupam nas cida<strong>de</strong>s os empregos <strong>de</strong>stinados à população<br />
chamada ‘civilizada’, são um número já consi<strong>de</strong>rável. Na<br />
maioria dos casos, quando isso não acontece, tais índios <strong>de</strong>sempregados<br />
acabam se viciando em bebidas alcoólicas e se tornando mendigos<br />
que perambulam pelas ruas das gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s do Estado e<br />
do País.<br />
Um exemplo <strong>de</strong>ssa ocupação involuntária é o que nos mostra a<br />
matéria recente do jornal O Globo sobre a questão do “êxodo rural”<br />
indígena, o que não é um privilégio só <strong>de</strong> Mato Grosso do Sul — estado<br />
que têm uma das maiores ocorrências do êxodo no país — mas,<br />
sim, <strong>de</strong> outros estados brasileiros, a exemplo do Rio <strong>de</strong> Janeiro, um<br />
dos maiores cartões-postais do mundo:<br />
Os turistas estrangeiros já po<strong>de</strong>m, mesmo sem terem<br />
experimentado uma caipirinha antes, sair do Rio<br />
dizendo que viram índios na Praia <strong>de</strong> Copacabana.<br />
De cocar e saia <strong>de</strong> franjas ___ mas com os seios<br />
cobertos por sutiãs feito <strong>de</strong> estopa e enfeitado com<br />
sementes <strong>de</strong> pau-brasil, duas pataxós chamam a<br />
atenção <strong>de</strong> quem passa pelo calçadão da Avenida<br />
Atlântica, em frente à Rua Constante Ramos. Acompanhadas<br />
por mais três índios, Guaricema e Aroeira<br />
contam ter chegado ao Rio há 15 dias para ven<strong>de</strong>r<br />
artesanato 11 .<br />
De Copacabana ao conto ‘A menor mulher do mundo’, o resultado<br />
e a atitu<strong>de</strong> são os mesmos, ou seja, po<strong>de</strong>mos dizer que a cultura<br />
indígena virou artigo <strong>de</strong> luxo, peça <strong>de</strong> alto valor no mercado globalizado;<br />
um cocar que foi usado por um chefe indígena <strong>de</strong> uma tribo, feito com<br />
penas <strong>de</strong> uma ave que está em extinção, ou mesmo um exemplar dos<br />
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