07.11.2014 Views

Anais de Historia CPTL - 2006.pmd - Campus de Três Lagoas

Anais de Historia CPTL - 2006.pmd - Campus de Três Lagoas

Anais de Historia CPTL - 2006.pmd - Campus de Três Lagoas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

O QUE NOS INDICAM OS<br />

BOLETINS DE OCORRÊNCIA?<br />

As travestis são homens transformados com roupas e acessórios<br />

femininos. A maioria usa aplicações <strong>de</strong> silicone pelo corpo, buscando<br />

as silhuetas arredondadas das mulheres. A partir daí surge, para<br />

esses agentes sociais, uma nova leitura do universo feminino, uma<br />

ramificação (tendo como referência as mulheres) em busca <strong>de</strong> uma<br />

feminilida<strong>de</strong> que não renuncia a algumas características<br />

masculinas.Toda essa inovação do meio feminino tradicional confronta-se<br />

com os mais conservadores, e estes encaram esta nova modalida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> cidadãos com rejeição.<br />

Um exemplo bem interessante <strong>de</strong>sta assimilação do feminino,<br />

pelas travestis, esta em um episódio <strong>de</strong>scrito num boletim <strong>de</strong> ocorrência,<br />

este relatado por policiais que foram chamados por pessoas<br />

que freqüentavam o lugar, a saber - uma lanchonete, localizada <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong> um posto <strong>de</strong> gasolina, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Três <strong>Lagoas</strong> - MS – impedindo<br />

os sujeitos abordados neste artigo <strong>de</strong> utilizarem o banheiro<br />

feminino,<br />

[...] ao a<strong>de</strong>ntrarmos a lanchonete verificamos que o<br />

travesti X, a<strong>de</strong>ntrou o W.C feminino sem consentimento<br />

do funcionário, que pediu a nós que tomássemos<br />

providências, que o acusado <strong>de</strong>veria usar o W.C masculino,<br />

foi então que pedimos ao acusado para que<br />

usasse o W.C masculino, o mesmo não acatou o<br />

nosso pedido, passou a nos <strong>de</strong>sacatar, dizendo palavrões,<br />

e que estávamos sendo arbitrários [...] (2006,<br />

b.o 712)<br />

Neste trecho percebemos que além da assimilação do feminino<br />

exposta pela Travesti quando naturalmente se direciona ao banheiro<br />

feminino e em seguida se recusa a acatar o pedido dos policiais dizendo<br />

que estes estavam sendo arbitrários. O acusado, conforme a autorida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>screve a travesti, estaria corrompendo e confundindo os papéis<br />

<strong>de</strong>stinados aos membros da socieda<strong>de</strong>, quais sejam, o masculino<br />

e o feminino.<br />

De acordo com Gilberto Velho, para esses grupos majoritários,<br />

afastá-las (as travestis) do convívio comum seria uma solução para<br />

uma possível reorganização social, ou seja, na situação <strong>de</strong>scrita pelo<br />

boletim <strong>de</strong> ocorrência, o agente majoritário seria o funcionário do local<br />

e os policiais, que possivelmente não aceitaram tal situação ou, indo<br />

mais além, o <strong>de</strong>nunciante, no caso, o empregado da lanchonete po<strong>de</strong><br />

ter se sentido acuado pelos clientes, quando estes esperavam provi-<br />

296

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!