Anais de Historia CPTL - 2006.pmd - Campus de Três Lagoas
Anais de Historia CPTL - 2006.pmd - Campus de Três Lagoas
Anais de Historia CPTL - 2006.pmd - Campus de Três Lagoas
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
ouro beneficia aquele que o usufrui e não aquele que o extrai. Nesse<br />
contexto, há a parodização do cotidiano das minas, bem como o caráter<br />
lúdico e cômico em uma socieda<strong>de</strong> marcada pela exteriorização da<br />
fé, ou seja, nota-se a carnavalização presente na socieda<strong>de</strong> mineira do<br />
século XVIII.<br />
A TEORIA CARNAVALESCA<br />
DE BAKHTIN 6<br />
O termo carnavalização foi usado na teoria, pela primeira vez,<br />
por Bakhtin, que o transformou numa categoria literária valendo-se do<br />
carnaval antigo e dos ritos carnavalescos da Ida<strong>de</strong> Média. Bakhtin<br />
mostra que se tratavam <strong>de</strong> situações <strong>de</strong> <strong>de</strong>snudamento ou <strong>de</strong> revelação<br />
do oculto, como colocar a máscara e, no mesmo ato, tirá-la.<br />
Entre o conceito <strong>de</strong> ‘carnaval’ e o <strong>de</strong> ‘carnavalização’ as idéias<br />
acabam se misturando, influenciando alguns estudiosos, que acabam<br />
por concluir que on<strong>de</strong> tem festa, on<strong>de</strong> tem exagero, on<strong>de</strong> tem inversão<br />
[<strong>de</strong> valores] também tem carnaval. Mas isso não é necessariamente<br />
verda<strong>de</strong>iro. No carnaval existe carnavalização, mas nem toda<br />
carnavalização é um carnaval.<br />
Enten<strong>de</strong>-se por Carnavalização um conjunto <strong>de</strong> manifestações<br />
que se esboçam com as festas populares, a partir das festas das<br />
ruas, das praças públicas, que realizam a utopia em que se invertem<br />
os valores, quebram-se as hierarquias e distâncias, <strong>de</strong>stronando<br />
as posições oficiais estabelecidas, através <strong>de</strong> uma linguagem<br />
cômica. Dentro <strong>de</strong>ssa linguagem, nota-se o discurso orientado para<br />
a paródia que, na visão <strong>de</strong> Bakhtin (1996, p. 04-5), este tipo <strong>de</strong><br />
discurso representa o modo <strong>de</strong> carnavalização artístico por excelência.<br />
Originariamente, segundo Bakhtin (1996, p. 56-7), entre os gregos,<br />
a paródia era o canto que se <strong>de</strong>senvolvia ao lado <strong>de</strong> outro, porém,<br />
contradizendo-o. Atualmente a paródia é um discurso crítico, que inverte<br />
o sentido <strong>de</strong> outro discurso. Para os parodistas, tudo, sem a<br />
menor exceção, é cômico; o riso é tão universal como a serieda<strong>de</strong>; ele<br />
abarca a totalida<strong>de</strong> do universo, a história, toda a socieda<strong>de</strong>, a concepção<br />
do mundo.<br />
O elemento que unifica a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manifestações carnavalescas<br />
e lhes confere a dimensão cósmica é o riso. Um riso coletivo<br />
que se opõe ao tom sério e à solenida<strong>de</strong> repressiva da cultura<br />
oficial e do po<strong>de</strong>r real, no contexto histórico em que estão inseridas,<br />
222