12.07.2015 Views

O repasse do dinheiro público a organizações não-governamentais

O repasse do dinheiro público a organizações não-governamentais

O repasse do dinheiro público a organizações não-governamentais

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Tal meta de aggiornamientotem si<strong>do</strong> a matéria-primadas teorias <strong>do</strong> direito, daadministração pública e managementempresarial das corporações e dasteorias econômicas. Na ótica Dahorda ao Esta<strong>do</strong> – a psicanálise <strong>do</strong>vínculo social, Enriquez diria que90% das teorias e méto<strong>do</strong>s prescritosde governança nas empresas e nacontabilidade nos governos operamcomo se tivéssemos necessidadede equacionar a quadratura <strong>do</strong>círculo: um centro (self político,econômico e cultural) só podeter como modelo o de estruturashierárquicas de gerenciamentopara atingir a coordenação detamanha fragmentação. Mas restasaber se os entes constituintesfragmenta<strong>do</strong>s reconhecem, em todasas circunstâncias, a validade destemodelo de esta<strong>do</strong> como pólo delegitimidade de poder. Estimo,grosso mo<strong>do</strong>, que apenas 10% dasnossas teorias e modelos mentaise cognitivos, práticas e exercíciossociopolíticos na administração ejustiça brasileiras estão orienta<strong>do</strong>spara pensarmos e praticarmos umasociedade civil sem recorrer a formasde hierarquização rígidas ou adaptadasde gerenciamento. Elas têm emcomum uma base jurídica de fomentoà síndrome <strong>do</strong> aban<strong>do</strong>no <strong>do</strong> diferente(AGAMBEN, 1998) e à repressãoNOVAS SOLUÇÕES PARA O PARADOXOpela violência institucionalizadaenquanto técnicas políticas latentesou concretas de controle social.Especialistas e pesquisa<strong>do</strong>restemos, desde os anos 1988/1990,quebra<strong>do</strong> a cabeça para elaborarteoricamente e avançar a pesquisae a prática concreta em torno decomo tornar viáveis a governançae a controlabilidade destas novasformas de trabalhar em rede pelosgovernos, assim como novosmodelos horizontais que operampelos princípios de auto-gestão eautopoeisis, capazes de uma relaçãode autonomia inserida diante <strong>do</strong>Esta<strong>do</strong>, e vice-versa (TRAGTENBERG,2004; MOTTA, 1994; DRAIBE etal, 1989; DUARTE, 1993; ESPING-ANDERSEN, 1990, FARIA, 1999;FERNANDES, 1994; NEDER, 2002,1996, 1995, NASCIMENTO, 1994;DOIMO, 1995, 1997; AVRITZER,1994, BENEVIDES, 1991; DAGNINO,1997; COSTA, 1997; BOSCHI, 1987;DEMO, 1997).Como manter vivo o dinamismocentro-periferia como parte de umaunidade, sem recorrer às técnicas degerenciamento e regulamentação queencarecem to<strong>do</strong>s os investimentoss o c i a i s d o E s t a d o p o r c r i a rgrande contingente de agentesintermediários? Ao invés de a<strong>do</strong>taro “tu<strong>do</strong> é sagra<strong>do</strong>” das sociedadespré-industriais, em que cada homeme cada coisa participavam à suamaneira da totalidade cósmica,estamos diante <strong>do</strong> “nada é sagra<strong>do</strong>,tu<strong>do</strong> é profano” <strong>do</strong> cristianismo.Em particular, o Iluminismo– e, por extensão, o merca<strong>do</strong> –destituíram também a Igreja deseu lugar de representante <strong>do</strong>corpo místico de Deus na terra.Simultaneamente o Esta<strong>do</strong> veiose fortalecen<strong>do</strong>, transforman<strong>do</strong>-seno subjuga<strong>do</strong>r da sociedade civil,depositário <strong>do</strong>s desejos de totalidade(característicos das pulsões de morte,insiste Enriquez). Os aparelhos degoverno são suficientes para “fazerexistir, no real, o fantasma-<strong>do</strong>-um”.Como se sabe, esta suspeita <strong>do</strong>fantasma <strong>do</strong> coletivo que busca o“um” foi levantada por Freud em seustextos sobre a vida social, sobretu<strong>do</strong>em “Psicologia de Massas e Análise<strong>do</strong> Ego” (1925) quan<strong>do</strong> anteviu amarcha <strong>do</strong> totalitarismo nazista.Nestes textos Freud descreveo mecanismo pelo qual o “um”possa <strong>do</strong>minar: é preciso que todaa diferença seja destruída. Estaameaça paira sobre os nossos atuaismodelos de estrutura de governo que,apesar de <strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s aparentemente devários centros de poder (poliarquia),submergem periodicamente emformas de autoritarismo, ou seja,seu objetivo torna-se reduzir todadiferença.O DINAMISMO DA SOCIEDADE CIVIL É O DINAMISMO DOS DIFERENTESSe dermos crédito a este“ para<strong>do</strong>xo Enriquez” (ec o n f i r m a d o p o r o u t r o spesquisa<strong>do</strong>res contemporâneos) deque nos melhores regimes sociaise políticos poliárquicos estamossujeitos a situações disfarçadas deesta<strong>do</strong>s de exceção autoritário outotalitário, pode estar chegan<strong>do</strong> ahora de nos abrirmos para novasformas de organização e de atuaçãopolíticas (GRAU, 1998, 1997; GRANT,1985).No Brasil estes sintomas aparecemcomo a crise policial de segurançapública, a violência com que morremossob a tecnologia <strong>do</strong> sistema de transporteindividual basea<strong>do</strong> no automóvel,ou nas reiteradas dificuldades paraevitarmos o aban<strong>do</strong>no e a exclusãoeconômica tão fatalista quanto inútilde milhares de jovens oriun<strong>do</strong>s <strong>do</strong>sgrupos étnicos diferentes e pobres,como se fosse latente o sentimento deestarmos em esta<strong>do</strong>s de exceção nonosso dia-a-dia.O dinamismo que contrapõesociedade civil e Esta<strong>do</strong> para requereruma ação estatal apazigua<strong>do</strong>ra, foiresponsável em associação coma empresa <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> colonial -anterior, portanto, a qualquerveleidade democrático-burguesa -pela grande ocupação e ampliação <strong>do</strong>território. Esta empresa colonial, ouse quisermos, Esta<strong>do</strong> colonial, deixouraízes e elas estão na sociedade civil.Sem a participação de vastos gruposétnicos e afro-brasileiros, nossosRevista TCMRJ n. 39 - setembro 200867

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!