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O repasse do dinheiro público a organizações não-governamentais

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ONGsdiferentes, tal história <strong>não</strong> seriapossível diante de uma colonizaçãoque precisou inventar a si própria.Parece que neste particular, o socialé antes de tu<strong>do</strong> o reino da certeza e,portanto, <strong>do</strong> esquecimento da verdadede que estes povos são parte da nossaidentidade nacional, pois temosesqueci<strong>do</strong> deles na atualização danossa sociedade civil. O dualismosociedade civil/esta<strong>do</strong> antes referi<strong>do</strong>,vive esta contradição: que revisõesinterpretativas terão validade?A q u i d e f e n d e m o s a q u efelizmente, já está em marchae pode ser interpretada como acriação artificial de um novo Esta<strong>do</strong>nacional conexo que se atualizaagora, no reconhecimento destesnossos diferentes étnicos e de gênero,reestabelecen<strong>do</strong> sua normalidade.Sérgio Buarque de Holanda, noseu olhar sobre as raízes da formaçãosocial brasileira, longe de fazer aapologia <strong>do</strong> homem cordial, apontoujustamente sua adequação a um tipode sociedade na qual pre<strong>do</strong>minava odinamismo entre a associação familiare o Esta<strong>do</strong>-Nação (ainda que símile<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> colonial português). Nopassa<strong>do</strong>, os nossos diferentes foramexcluí<strong>do</strong>s <strong>do</strong> mutualismo políticofamiliare étnico de <strong>do</strong>minação entreEsta<strong>do</strong> e sociedade. A persistênciadessa crise de identidade societárianos levou aos reitera<strong>do</strong>s choques entreo Esta<strong>do</strong> monárquico-parlamentar –aomesmo tempo herdeiro e inimigo <strong>do</strong>Esta<strong>do</strong>-colonial – e a formação da(nova) sociedade na segunda metade<strong>do</strong> século XX.AS SAÍDAS FORAM ENCONTRADAS MAIS AMIÚDE PELA TRANSGRESSÃORomper com a ordem públicae cidadania foi uma saídapreferida à mudança da ordem<strong>do</strong>méstica identificada com a <strong>do</strong>ssenhores da terra e <strong>do</strong> comércio. Oparalelo com Antígona que Buarquede Holanda utiliza para invocar essechoque continua contemporâneo.Em Antígona, Sófocles apontava,então, a necessidade de transgressãoda ordem <strong>do</strong>méstica para fazervaler as leis impessoais <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> 4 .No pensamento Iluminista, mil equinhentos anos depois esse choquefoi atualiza<strong>do</strong> para as condiçõesda época, inverten<strong>do</strong> os pólos. Oprincípio de separação entre Esta<strong>do</strong>e esfera civil se vê marca<strong>do</strong> pelacontradição de o Esta<strong>do</strong> (civitas)tornar-se condição necessária para aexistência da sociedade (societas)!Esse drama foi recupera<strong>do</strong> noSéculo XX, em Raízes <strong>do</strong> Brasil parailustrar as dificuldades da passagementre o familiar (societário) e o político(Esta<strong>do</strong>). Aplica<strong>do</strong> ao universo dacultura política contemporânea,é a repetição <strong>do</strong> mesmo: emboratenha precedi<strong>do</strong> a formação dasociedade (civil) no Brasil, o Esta<strong>do</strong>vive sob e freqüentemente submergeaos particularismos familiares efamiliaristas.A ECONOMIA SOLIDÁRIA E OS TRÊS TERRITÓRIOS DA SOCIEDADE CIVIL NO BRASILComo pode uma sociedade,sob um Esta<strong>do</strong> republicanoc e n t r a l i z a d o e n a c i o n a lemergente a partir <strong>do</strong> século XX,reconhecer a si própria, dada aexistência de sujeitos diferentes tãoexcluí<strong>do</strong>s? Daí ser um pensamentopolítico institucional, jurídico esociológico que se debate entre rompero dever de proteger os princípioscomunitários das corporações eprivilégios de ofício - ainda presentesna maioria das nossas atividadeseconômicas herdadas <strong>do</strong> antigoregime <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> desenvolvimentistaautoritário da segunda metade <strong>do</strong>século XX, e a dificuldade em definiruma nova economia política cujopleno desenvolvimento depende daação política ativa de uma parte dasociedade civil e <strong>do</strong> campo estatal.Esta ação tornou-se fundamentalpara que seja reconhecida comoflorescente o futuro da economiasolidária promovida por milhares deempreendimentos autogestiona<strong>do</strong>s,capazes de superar a economiafamiliar tradicional (que continuarásua marcha de vida-e-morte cíclica),mas ao mesmo tempo possa abriras possibilidades de organizaçãode merca<strong>do</strong>s justos no interior dasociedade civil econômica.Estamos assim envolvi<strong>do</strong>s coma possibilidade rica de respostas ecaminhos para a auto-organizaçãode uma economia solidária. Qualdeve ser a posição <strong>do</strong>s gestorese políticos, poderes executivo,legislativo e judiciário diante destadiversidade de práticas econômicase sociais organizadas sob a forma decooperativas, associações, empresasautogestionárias, redes de cooperação,complexos cooperativos, entre outros,que realizam atividades de produçãode bens, prestação de serviços,finanças solidárias, trocas, comérciojusto e consumo solidário?Esse setor vem se desenvolven<strong>do</strong>no Brasil constituin<strong>do</strong> uma alternativade trabalho e renda e inclusãosocial. No mapeamento nacionalda economia solidária, inicia<strong>do</strong> em4“Creonte encarna a noção abstrata, impessoal da Cidade em luta contra essa realidade concreta e tangível que é a família. Antígona sepultan<strong>do</strong>Polinice contra as ordenações <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> atrai sobre sí a cólera <strong>do</strong> irmão, que <strong>não</strong> age em nome de sua vontade pessoal, mas da supostavontade geral <strong>do</strong>s cidadãos, da pátria”. Apud Sergio Buarque de Holanda - Raízes <strong>do</strong> Brasil . (1988: 101). A era moderna já <strong>não</strong> apresentavaessa contraposição devi<strong>do</strong> a mudança da esfera política. Nesse senti<strong>do</strong>, Hannah Arendt aponta para o declínio da família antiga: “A notávelcoincidência da ascensão da sociedade com o declínio da família indica claramente que o que ocorreu na verdade foi a absorção da família porgrupos sociais correspondentes” (1987:49).68 setembro 2008 - n. 39 Revista TCMRJ

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