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O Dinossauro - Ordem Livre

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150privadamente". A mordomia, a aquisição indébita, a advocacia administrativa, osfavorecimentos ilícitos, filhotismos e nepotismos, comissões e gorjetas tão comuns emnosso funcionalismo, do mais alto escalão ao mais baixo, são assim explicados, ainda quenão necessariamente justificados — de modo que aquilo que, a um público urbano maissofisticado, mais instruído, mais evoluído e julgando em termos racionais, segundo padrõesde comportamento vigentes na "sociedade exemplar" da Europa e dos EUA, possa seapresentar como uma evidente manifestação de corrupção, condenável sob todos osaspectos, é tido no sistema patrimonialista como natural, honesto e legítimo. Nessaperspectiva, a corrupção geralmente reinante nos países subdesenvolvidos da África e daAmérica Latina seria sintoma, não de um vício fundamental de sua estrutura moral, mas deum simples atraso ao nível patrimonialista no progresso para formas mais "legais" e mais"racionais" de comportamento coletivo. Quando, por exemplo, o presidente do SupremoTribunal Federal, o mais altamente colocado magistrado do país e aquele de quem mais sepoderia exigir o cumprimento rigoroso das Leis, quando esse juiz, dizia eu, exerceuinterinamente a presidência da República, em 1945, após a primeira derrubada de GetúlioVargas por um golpe militar — sua primeira preocupação, senão única, consistiu emnomear todos os parentes para cargos públicos, inclusive o próprio filho para a carreiradiplomática. Em outras palavras, considerou imediatamente que a presidência da Repúblicaera seu patrimônio particular. Por que não dela se locupletar enquanto houvesse tempo?Estou seguro de que nenhuma compunção moral o deteve. Criticado, o aludido magistradoachou suas iniciativas perfeitamente legítimas, não podendo mesmo compreender o sentidoda crítica... Quarenta anos depois, terminou o regime militar e a chamada "Nova República"se inaugurou com uma verdadeira maré de nomeações e promoções da enorme clientelarespectiva, em praticamente todos os estados da federação e em Brasília. O governador deS.Paulo, em que pese sua sofisticação, discretamente colocou em posições no Palácio dosBandeirantes toda a sua família. O resultado do sistema é que a classe privilegiada que seapropriou das alavancas do governo graças a mecanismos representativos imperfeitos e, emmuitos casos, espúrios, mantém indefinidamente seu poder, quaisquer que sejam asperipécias da vida política da nação. As "revoluções" ocorrem. Mudam os regimes. Osgovernos se sucedem. Mas os mesmos políticos ou seus clientes conservam o poder decontrole absoluto sobra a Cosa Nostra...Os marxistas tentam explicar tal fenômeno pela ideia de que é sempre a mesma"classe dominante" burguesa que controla o Estado, assim desvalorizando o que chamam de"democracia formal" e acoimando as eleições pluripartidárias de ilegítimas. Não estou

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