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O Dinossauro - Ordem Livre

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39condição que eles, também, me deem seu direito e me autorizem a todas as ações da mesmamaneira". O raciocínio termina numa justificativa do despotismo, da monarquia absoluta ouda ditadura totalitária: "Contratos sem a espada nada mais são do que palavras e de forçaalguma para assegurar o comportamento de um homem". E de novo: "os laços criados pelaspalavras são demasiadamente fracos para refrear a ambição, a avareza, a cólera e as outraspaixões do homem, sem o medo de algum poder coercitivo". Pois a psicologia de Hobbessó pode ser compreendida na base de um pensamento exclusivamente preocupado com ointeresse próprio, sofrendo do medo onipresente de aniquilamento fatal.Acrescente-se entretanto que, fora deste ponto de vista melancólico a respeito doInconsciente instintivo, a concepção de Liberdade afagada por Hobbes — na medida emque somente no chamado "estado de natureza" pode o homem livremente expressar seusdesejos e aversões, e externar, sem constrangimento, a libido de sua vontade de poder —não se distingue fundamentalmente da dos Românticos, na versão original que nos deixariaRousseau do Contrato Social.A psicanálise freudiana, especialmente a que se inspira no Freud já envelhecido, oFreud do Instinto de Morte, o Freud que já sofria de câncer e já conhecera os dissabores darebelião de discípulos queridos— oferece uma curiosa versão moderna da teoria hobbesiana. Surge o mesmo problema daordem social que Hobbes levantara. Para Freud, a psique humana transforma-se no campode batalha e de tensão, no qual o Eu consciente se depara, de um lado, com as forças doSuperego, representante dos valores sociais e morais que mantêm a integridade do grupo; ede outro, com a energia rebelde do Id, carregando os impulsos instintivos de sexo eagressão. Em Totem e Tabu, Freud se refere ao primeiro "contrato social", que teria sidoconcluído entre os filhos rebeldes após o parricídio canibalesco do gorila primordial, com aimposição do tabu do incesto, o culto totêmico e a regra da exogamia.A concepção de um conflito interior entre Thanatos e as restrições moraisinflingidas pelo Superego, enquadra-se perfeitamente como expressão psíquica do contratoleviatânico de Hobbes. Aliás, não passa de uma variante da crença generalizada nos séculosXVII e XVIII quanto à necessidade das "paixões da alma" serem controladas pela Razão. OContrato Social, quer o de Totem e Tabu, quer o do Leviatã, quer o de Locke e o deRousseau, é sempre um produto da Razão reprimindo os impulsos das paixões instintivas. Acrença é constante na Filosofia Perene. Ela surge talvez em clara expressão filosófica nofamoso capítulo 7 da Epístola aos Romanos, onde S. Paulo, o primeiro grande psicólogo dahistória da filosofia, alude à tremenda batalha interior entre a Vontade racional de fazer o

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