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O Dinossauro - Ordem Livre

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311para os ímpetos hobbesianos que distinguiram os militares de "linha dura" na década dossetenta, e para a tentação rousseauniana que hoje atinge o clero dito "progressista".A introdução das Comunidades Eclesiais de Base; o aparecimento da CNBB comoórgão de mobilização política na Igreja brasileira; as preocupações sociais oriundas doConcilio Vaticano II; a tradição tridentina de reforço do poder secular que, após o adventodas famosas encíclicas "sociais", tende a colocar-se numa posição social-estatizante eantiliberal; a criação do PT com o apoio ostensivo da ala "progressista" e a agitaçãodemagógica de clérigos inquietos do tipo Helder Câmara, frei Beto, Leonardo Boff,Evaristo Aras e Pedro Casaldáliga, sugerem a possibilidade de muitos padres estaremcogitando da eventualidade de substituírem os militares como a nova elite, os novosmentores, os novos Aiatolás da República. A CNBB, órgão espúrio na organização milenarda Igreja, permite a um grupo de militantes esquerdistas contornar o obstáculo levantadopelo relacionamento tradicional direto entre o papa e os bispos. Essa entidade comporta-sehoje, francamente, como um grupo de pressão político, para não dizer subversivo. Ofenômeno ressuscitaria o papel que desempenharam os jesuítas nos dois primeiros séculosde nossa história — um papel súbita e violen tamente interrompido por Pombal. Nointervalo e salvo alguns casos isolados como o de frei Caneca, a Igreja cuidadosamenteevitou intervir em assuntos de ordem política. Talvez a data marcante da nova tendência deenvolvimento eclesiástico na vida social do país seja o ano de 1954 quando se realizou —se não me engano — o primeiro grande Congresso Eucarístico no Rio de Janeiro. Naquelaépoca, diante da desordem reinante nos meios dirigentes do país e da ordem impecável que,por contraste, fizeram os sacerdotes imperar naquele evento — ouviu-se muita gentecomentar: "agora é a vez dos padres!", "só os padres defendem os pobres e a justiça social","só eles saberão governar o Brasil", "por que não se deixa os padres substituírem essespolíticos incompetentes e corruptos?"...Estou efetivamente convencido da possibilidade de eclosão de um tipo deliderança populista-clerical semelhante à que levou os clérigos ao poder teocrático no Irã,sob a chefia carismática do aiatolá Khomeini. Ou no gênero do governo clerical-marxista deManágua, com os Descoto e os Cardenal. O Brasil transformar-se-ia numa espécie deimensa Nicarágua.O intelectual vira teólogo, o teólogo se converte em agitador populista e a teologiatorna-se praxis revolucionária. Em seu livro Do lugar do pobre (Petrópolis, 1984),Leonardo Boff propõe a seguinte tese: "O momento decisivo é a ação transformadora(praxis), o engajamento concreto com os grupos de reflexão-ação. A partir desse

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