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O Dinossauro - Ordem Livre

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166minha expedição pelo interior. Não é nada agradável a gente submeter-se à insolência defuncionários públicos; mas se submeter aos brasileiros, que são tão desprezíveis no espíritocomo miseráveis no corpo, chega a ser intolerável. A perspectiva, porém, de ver umafloresta que é habitada por belas aves, macacos, preguiças e lagos onde moram jacarés, faráqualquer naturalista lamber o pó que acaba de ser pisado até mesmo pelo pé de umbrasileiro"... Como explicar esse caráter agressivo da burocracia patrimonialista, num paísque se orgulha de ser tolerante e ambiciona desenvolver-se racional e legalmente, segundoo modelo democrático?O Brasil é o país onde o casamento é tão caro e impõe tais exigências que amaioria da população (mais de 50% segundo o IBGE) abstém-se da formalidade. Exige-se,entretanto, certidão de estado civil para obter título de eleitor. Por quê? Este próprio autor,quando solteiro e ansioso por contrair justas núpcias, teve a experiência de solicitarDispensa de Proclamas a fim de mais rapidamente poder embarcar e assumir o posto para oqual fora nomeado pelo Excelentíssimo Senhor Presidente da República — e soubefinalmente das proclamas dispensadas pelo Meritíssimo Senhor Juiz uma semana depois decasado...Em Bauru ocorreu certa vez que uma menina, chamada Denise, não podia ir para aescola porque fora registrada, ao nascer, como Dionísio: engano de cartório. Devendo sermenino quando, na realidade, era menina, as escolas locais se recusavam a aceitá-la,alegando erro de identidade. Isso quando a lei reconhece o direito à educação pública a todacriança, independentemente de sexo. Conheci um cidadão que se chama Wangner.Estranhando o sobrenome, perguntei-lhe certa vez se sua família era de origem alemã.Explicou-me que não: seu pai, amante de música romântica, lhe havia escolhido o nome deWagner, mas o funcionário boçal do Registro Civil enganou-se e escreveu Wangner, eassim meu amigo passou a carregar, pelo resto da vida, o patronímico peculiar. Um outroexemplo divertido dessa interferência abusiva de amanuenses ignorantes e prepotentes comum dos patrimônios mais sagrados da pessoa humana — o próprio nome — pode serregistado em São Paulo onde descobri dois nisseis, filhos de japoneses, o primeiro, umhomem, cujo nome Akira foi corrigido para Akiro, e a segunda, uma mulher cujo nome,Emiko, foi corrigido para Emika. Akiro e Emika, em japonês, nada significam. Emportuguês tampouco. Se realmente todo feminino tivesse que terminar em a e todomasculino em o, então deveríamos dizer a mapa, a programa, a esquema, o canção, oconstituição, o informação, etc. A estupidez burocrática pode ser aquilatada por essaflagrante violação de um dos mais fundamentais e legítimos direitos humanos, o dos pais

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