12.07.2015 Views

O Dinossauro - Ordem Livre

O Dinossauro - Ordem Livre

O Dinossauro - Ordem Livre

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

34autonomizado, é certamente o de transformar-se nesse animal robusto, Leviatã, "essaserpente escorregadia, serpente tortuosa e dragão que está no mar" (Isaías 27:1) — ummonstro terrível, feito sem medo, ou um redemoinho que devorará o homem, a não ser queo Senhor, "armado com sua espada dura, grande e forte", o visite e mate.Os Santos Padres da Igreja sempre reconheceram no Leviatã o seu sentidoetimológico original — a "sociedade dos maus". O império romano, por exemplo, para osprimeiros mártires cristãos. Leviatã é a sociedade do demônio e seus discípulos. Leviatãtem, portanto, um significado apocalíptico. Hobbes, obviamente, conhecia essa procedênciada palavra. Isso nos deve levar a insistir não seja Hobbes verdadeiramente um apologistaentusiástico do Estado absoluto, como vulgarmente é descrito — mas talvez um realistadogmático e pessimista que reconhece a essência perversa e demoníaca do poder político.Ele não seria um Satanista mas apenas estaria explorando aquilo que está profundamenteimpregnado no sentimento cristão. O poder é perverso, o poder é corruptor e diabólico. OEstado, por conseguinte, é mau. E tanto pior quanto mais poderoso. A partir dessa tese deHobbes, os pensadores liberais, a começar com Locke, Adam Smith e Montesquieu, iriampropor a redução do poder do Estado, ou sua descentralização ou divisão em "Três Poderes"funcionais. Em suma, é nesse sentido que não me parece correto adiantar tenha Hobbesproposto a ressacralização do Estado, pois algo que é descrito, mesmo por ironia, como ummonstro satânico dificilmente poderia ser santificado ou endeusado.Com olhos gélidos e lúcidos, percebeu Hobbes a essência do problema político nomundo moderno em gestação, este nosso mundo ocidental que produziu, ao mesmo tempo,a monarquia absoluta, a democracia liberal e o nacional-socialismo totalitário. Maisprofundo do que Maquiavel, pressentiu as contradições em que se formava o Estado,secularizado pela Reforma e pela decadência do poder da Igreja de Roma, e ressacralizadopela monarquia absoluta. Para o pensador inglês, vivendo emocionalmente os anos dasgrandes revoluções inglesas do século XVII, a política é um produto da razão a qual temque enfrentar as vorazes paixões do homem. Particularmente, a paixão fundamental, a maiscentral, a mais íntima, a mais tirânica, irresistível e englobante: a pleonexia, a libidodominandi. Esta é o impulso ou instinto, a concupiscência de domínio, a Vontade de Poderde que, exaltado, falará Nietzsche, que estudará Adler e que angustiará Freud (dando-lhe onome de Instinto de Morte) — a agressividade sob todas suas formas; preocupação dosetólogos e antropólogos; aflição de todos aqueles que contemplam as grandes tragédias dahistória contemporânea.A libido de poder seduz para o pecado de orgulho — superbia, o próprio vício do

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!