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O Dinossauro - Ordem Livre

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180a sujeira das ruas, o colapso da limpeza pública, o desaparecimento dos doze mil garis, ainvasão dos ratos, a volta da febre amarela, o dengue. Assim se transforma a beleza emfeiúra. No momento, foram pelo menos resolvidos, no Rio e São Paulo, os problemas deágua, luz e telefone. Mas permanecem os do transporte coletivo, da limpeza urbana e,sobretudo, da segurança nas ruas e nas casas. Em troca dos serviços públicos à beira docolapso, os administradores constroem fachadas de escolas, sambódromos e expedem lindaspromessas, empacotadas em comunicados cor-de-rosa onde se anuncia o eterno "empenhona solução de tão angustiante problema da família brasileira"... Que será do Rio e de SãoPaulo quando, daqui a 15 ou 16 anos, terão dobrado de tamanho?Construir é fácil, requer imaginação, dinheiro e contratos com empreiteirosparticulares. Conservar é difícil, requer atenção, cuidado, responsabilidade. Os mosaicos depedra branca e preta, célebres nas calçadas cariocas, são também simbólicos: as pedrasandam invariavelmente soltas para tropeço dos transeuntes. Os relógios públicos sãonumerosos, às vezes enormes como o da torre da Central — mas ninguém se lembra demantê-los pontuais ou mesmo de lhes dar corda. Brasília, a cidade do futuro, a "novacapital", é também uma das mais sujas do planeta: lama, pó, detritos e lixo sobre osgramados. O relaxamento é o traço característico da administração. Em Brasília deparamos,na Ceilândia, com a mais formidável favela do país: mas os construtores de Brasília sediziam todos socialistas...As prefeituras das cidades brasileiras gostam de fazer obras grandiosas,admiráveis, excepcionais. Quando o Fundo de Participação reservou uma percentagemsubstancial para os municípios, estes, sentindo-se eufóricos, desandaram do Amapá ao Chuíe do Acre ao Cabo de São Roque a plantar chafariz com repuxo na praça municipal.Ninguém pensa em bueiros e esgotos entupidos. Bueiro e esgoto não fazem cartaz. Não sãomonumentos ostentatórios que permitem festa com faixas, bandeiras, discursos, hinonacional, placas comemorativas e prestígio eleitoreiro. Os municípios têm o governo quemerecem...O Rio de Janeiro é uma cidade dos trópicos úmidos onde chove muito. Desde otempo de Estácio de Sá que se sabe disso. Mas só após algumas centenas de mortos,governo e população começaram a tomar providências conjuntas para combater asenchentes, a erosão provocada pelo fogo das matas e a ameaça de deslizamentos. Dizemque o relaxamento, a anarquia e a falta de acabamento das cidades são indícios desubdesenvolvimento. Mas no Brasil atingem a verdadeiros prodígios de refinamento —como se um gênio maligno se houvesse dedicado com ardor sádico a atrapalhar, complicar,

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